A Volkswagen e a General Motors (GM) resolveram reduzir a produção de automóveis no Brasil em meio a um programa do governo federal para estímulo à indústria automotiva.
A Volks suspendeu a produção de automóveis em três fábricas: em São José dos Pinhais (PR), São Bernardo do Campo (SP) e Taubaté (SP). A medida foi anunciada na terça-feira (27) e, segundo a empresa, tem a ver com a “estagnação” do mercado de carros no país.
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Também na terça-feira, metalúrgicos de São José dos Campos (SP) aprovaram a suspensão temporária de contratos de trabalho de 1.200 funcionários da fábrica da GM na cidade –cerca de um terço do total. O chamado lay-off foi solicitado pela montadora pensando na suspensão de um turno de trabalho e consequente redução da produção.
Tudo isso ocorreu durante a vigência do programa governamental que subsidia em até R$ 8 mil a compra de carros populares justamente para estimular a produção deles. A medida provisória que criou esse programa foi assinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último dia 5 –ou seja, a menos de um mês.
Subsídio por vendas
O programa destinou, a princípio, R$ 500 milhões em descontos em impostos só para descontos de carros populares. Outros R$ 700 milhões foram para caminhões e ônibus, e R$ 300 milhões para vans.
O governo vê o programa como um sucesso. O Ministério dos Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) informou em nota enviada ao Brasil de Fato que mais de 80% dos recursos destinados aos subsídios se esgotaram em cerca de 15 dias, o que mostra que houve grande procura por carros estimulada pelos subsídios.
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O governo, aliás, vai prorrogar o programa e conceder subsídios extras para a compra de carros populares.
O Mdic informou também que a intenção do programa foi manter 1,2 milhão de postos de trabalho ligados à cadeia produtiva automobilística. Declarou ainda que “o governo trabalha pela melhoria do ambiente de negócios, pela redução da taxa de juros, pela aprovação da reforma tributária e pela criação de uma nova política industrial, entre outras medidas estruturais que visam promover o crescimento econômico, aumentar a renda da população e estimular o mercado interno – beneficiando todos os setores da atividade econômica”.
Juros e contrapartida
Wellington Messias Damasceno, diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos ABC, que representa trabalhadores da Volkswagen, afirmou que a indústria não vai se recuperar enquanto a taxa básica de juros, a Selic, não for reduzida.
Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano. É a taxa básica de juros reais mais alta do mundo –isto é, juros descontados o percentual de inflação.
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Com juros altos, o financiamento para a compra de um carro fica mais caro. Isso desestimula a compra e, por consequência, a produção.
“As taxas de juros estão tornando impraticáveis os negócios”, disse Damasceno. “Por mais que houvesse a iniciativa do governo federal para fazer a compensação de valores, o que imaginávamos e no tempo que esperávamos não está sendo atingido.”
Valmir Mariano, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, acrescentou que serão necessárias também medidas estruturais para que haja uma recuperação da indústria automobilística.
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“O nível salarial é muito baixo hoje, inclusive nas montadoras”, afirmou. “A insegurança no emprego também é muito grande. Isso precisa mudar para as pessoas fazerem um um financiamento longo para comprar um produto de alto valor.”
Mariano também criticou o governo, já que ele subsidiou o negócio de montadoras sem exigir contrapartidas de produção ou garantia de emprego.
“O governo está dando dinheiro público para as empresas e deveria exigir que as empresas não demitissem ninguém, que garantisse o emprego de trabalhadores”, disse.
Montadoras
Procurada pelo Brasil de Fato, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que negociou junto ao governo o estímulo a montadoras, não comentou as suspensões da GM e na Volkswagen.
No início do mês, quando o governo anúncio o subsídio, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, afirmou que três montadoras haviam suspenderam lay-offs para aumentar a produção por conta do programa.
Edição: Rodrigo Durão Coelho