O Brasil já registrou mais de 7,2 mil casos de febre oropouche em 2024, segundo dados do Ministério da Saúde. A doença está presente em 20 estados brasileiros e causou duas mortes. São números que compõem um cenário nunca observado e que chama a atenção das autoridades de saúde.
Em paralelo à confirmação dos casos fatais pelo governo brasileiro, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgou um texto orientador sobre a doença. Há algumas semanas, a entidade publicou ainda um alerta epidemiológico para o continente. No informe, a OPAS afirma que Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia também registram surtos.
Sobre a possibilidade de que a situação sanitária se agrave ainda mais, o documento não é direto. O texto informa que “aconselhou os países afetados a fortalecer a vigilância e implementar medidas de controle de vetores para ajudar a prevenir um novo aumento de casos”.
Transmitido pela picada do mosquito Culicoides paraensis, no Brasil, o vírus é mais comum na região Norte. Quase 5 mil do total de casos em território nacional estão concentrados no Amazonas e em Rondônia. O inseto também é conhecido como maruim, meruim, mosquito pólvora ou mosquito do mangue.
No Nordeste, há registros na Bahia, Pernambuco, Ceará, Piauí, Maranhão e Paraíba. Na região Sudeste, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais também confirmaram infecções. Assim como Santa Catarina, no Sul, e Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste.
Epidemia?
Os óbitos foram registrados no interior da Bahia. As vítimas são duas mulheres com menos de trinta anos e sem comorbidades. Até então, não havia nenhum registro científico de mortes por febre oropouche em todo o mundo.
Para classificar a situação como uma epidemia nacional é preciso observar alguns critérios. Um deles é a ocorrência de um número alto de casos em todas as regiões brasileiras. Os dados atuais do Brasil mostram que, apesar do número alto de infecções, há estados com menos de cinco casos.
Ainda assim, frente à evolução inédita do cenário este ano, o Ministério da Saúde também divulgou alertas sobre a doença. Segundo determinação da pasta, todos os casos suspeitos ou com diagnóstico laboratorial positivo devem ser investigados e a vigilância precisa ser intensificada.
A pasta destaca que a notificação compulsória imediata é necessária devido ao potencial epidêmico e da alta capacidade de mutação. A doença pode se tornar uma ameaça à saúde pública.
Pesquisa
Outro objetivo é entender mais detalhes sobre características clínicas e epidemiológicas da doença e identificar as espécies de vetores envolvidas na transmissão. A febre oropouche foi identificada pela primeira vez na década de 1950 em Trinidade e Tobago, no Caribe, e ainda é pouco conhecida.
O governo estabeleceu grupos de pesquisa que atuam em três frentes. Eles se dividem entre estudos da linhagem e as características genômicas do vírus, manifestações clínicas em pacientes e o ciclo da doença nos mosquitos transmissores.
Uma das dúvidas que podem ser elucidadas é o potencial de infecção vertical, de gestante para feto. A ciência global ainda não tem respostas definitivas para essa possibilidade.
Em território nacional, autoridades de saúde analisam seis possíveis casos em Pernambuco, na Bahia e no Acre. Em duas ocorrências, foi registrado óbito fetal e três casos apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia.
Sintomas e tratamento
Além de febre, a doença pode causar dor de cabeça, dor no corpo e dores abdominais. Há casos assintomáticos, o que amplia a possibilidade de subnotificação. Além disso, os sinais podem ser confundidos com outras condições, como a dengue.
O Culicoides paraensis mede de um a três milímetros, ou seja, é menor do que o Aedes aegypti. Outra característica que difere as duas espécies são os locais de preferência. O Culicoides busca lugares úmidos, com muita matéria orgânica em decomposição, como folhas, galhos, cascas, frutas e verduras.
Embora seja o principal vetor, outras duas espécies também foram identificadas como vetores, o Coquilletti diavenezuelensis e o Aedes serratus. As recomendações para evitar a picada são uso de roupas que cubram o corpo e repelentes. A população também deve evitar áreas com grande presença dos insetos.
Também é importante manter ambientes limpos, assim como evitar água parada e acúmulo de folhas e outros tipos de matéria orgânica em decomposição. Quem vive em áreas com registro de casos deve procurar atendimento médico caso apresente sintomas. Possíveis situações de exposição devem ser relatadas.
O Brasil tem um teste específico para detectar a doença, desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e disponível em todo o território nacional desde o ano passado. Não há vacina ou tratamento específicos contra a doença. Os cuidados de pacientes têm foco no controle de sintomas.
Edição: Martina Medina