A queda de um passadiço, tipo de corredor externo que conecta apartamentos em edifícios, provocou duas mortes e deixou 13 feridos em um prédio da periferia de Nápoles, sul da Itália.
O incidente ocorreu na noite de segunda-feira (22), em uma das famigeradas “velas de Scampia”, conjunto habitacional com prédios em formato de vela e que, nas últimas décadas, se tornou símbolo da degradação urbana e do poder da Camorra nesse bairro de uma das principais metrópoles do país.
Os mortos eram um homem de 29 anos, Roberto Abruzzo, que faleceu na hora e uma mulher de 35, Margherita Della Ragione, que chegou a ser levada a um hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Dos 13 feridos, sete são crianças de dois a oito anos, incluindo duas em estado gravíssimo.
A “Vela Celeste”, nome do prédio, é uma das únicas unidades do conjunto habitacional em Scampia que permanecem de pé, enquanto a maioria foi demolida nos últimos anos no âmbito de um amplo projeto de requalificação urbana.
O corredor ficava entre o segundo e o terceiro andares do edifício, e o desabamento ocorreu durante uma discussão entre duas famílias. A suspeita dos investigadores é de que um suposto excesso de peso possa ter contribuído para a tragédia, que provocou comoção na Itália e condolências de toda a classe política.
“Estou triste com o que aconteceu ontem na Vela Celeste, no bairro de Scampia, em Nápoles. Neste momento de dor, minhas condolências vão às famílias das vítimas, bem como um pensamento de solidariedade aos feridos e a seus entes queridos”, disse a premiê Giorgia Meloni nas redes sociais.
Já o presidente Sergio Mattarella telefonou ao prefeito de Nápoles, Gaetano Manfredi, para expressar solidariedade, enquanto a líder de oposição Elly Schlein, do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), declarou que a tragédia é “inaceitável” e deixa uma “ferida” em todo o país.
As autoridades da província de Nápoles determinaram a evacuação dos cerca de 800 moradores da Vela Celeste – incluindo 300 menores de idade -, mas pelo menos 300 deles devem voltar para casa ainda nesta terça-feira (23), após as verificações de segurança necessárias.
“Existem aqui em Scampia casas apreendidas da Camorra, por que não nos colocam nessas habitações?”, questionou um dos residentes.
Enquanto isso, Manfredi decretou luto municipal no dia do funeral das vítimas, que ainda não foi anunciado, e garantiu que o objetivo da prefeitura é concluir a requalificação das Velas de Scampia “até 2027”. A Vela Celeste é a única que continuará de pé e deverá receber escritórios de órgãos públicos após a reforma.
“É um trabalho progressivo: conforme as novas residências serão construídas, as famílias serão transferidas”, disse o prefeito. Antes dominadas pela Camorra, as Velas de Scampia foram palco em 2004 de uma guerra entre dois clãs mafiosos pelo controle do crime organizado na região. O conflito durou quase um ano e chegou a registrar mais de um homicídio por dia.
Em função desse histórico, uma das velas foi usada como locação de “Gomorra”, série inspirada no livro homônimo de Roberto Saviano.