A Escola Estadual Jornalista Vladimir Herzog, em São Bernardo do Campo (SP), desistiu de adotar o modelo cívico-militar, após forte pressão da sociedade civil. A decisão foi comunicada pela direção da escola, no domingo (21) e confirmada pela Secretaria Estadual de Educação.
Nas redes sociais, o Instituto Vladimir Herzog (IVH), expressou satisfação com a desistência e afirmou que ela é “resultado de intensa pressão social”.
“Esperamos que o caso da Escola Estadual Vladimir Herzog sirva de exemplo e motivação para que toda a sociedade impeça o avanço de projetos como esse em nosso país. Reafirmamos nosso compromisso com uma educação pública, inclusiva e de qualidade, e continuaremos mobilizados contra quaisquer iniciativas que ameacem esses princípios”, afirmou o IVH.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo comemorou a decisão da diretoria da escola estadual, que qualificou como uma “vitória diante da ofensiva promovida pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) em delegar à Polícia Militar atribuições educativas que lhe são indevidas e incompatíveis”.
“Por motivos óbvios, a inclusão da Escola Estadual Vladimir Herzog no programa ‘cívico-militar’ seria uma afronta à memória de um jornalista assassinado pela ditadura militar, bem como uma agressão a seus familiares, amigos e à categoria profissional dos jornalistas”, afirmou o sindicato, em nota.
No entanto, alertou que outras centenas de escolas estaduais podem adotar o modelo de ensino cívico-militar no estado. “Assim, nos somamos à Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e diferentes entidades sindicais e da sociedade organizada para lutar contra o avanço das escolas ‘cívico-militares’ em nosso estado”, atestou.
O caso
Na quinta-feira (18), a Secretaria de Educação de São Paulo divulgou um edital para a abertura de consulta pública sobre a implementação do novo modelo de ensino. A presença da escola Vladimir Herzog, localizada em São Bernardo do Campo, na lista de 302 instituições “interessadas” no modelo acabou despertando indignação em organizações da sociedade civil.
“Em nenhum país verdadeiramente democrático, teríamos a associação – ainda que simbólica – de um nome como o do jornalista Vladimir Herzog a uma escola de ensino cívico-militar. Esse projeto de poder, que busca promover o apagamento da nossa história de violência, não prosperará enquanto verdade. Militares, que no passado perpetraram um golpe de estado e implementaram a censura no país, não devem ter lugar em nossas escolas”, declarou o IVH.
“É uma afronta inadmissível a mera cogitação de que seja militarizada uma escola que leva o nome de Vladimir Herzog, jornalista brutalmente assassinado por agentes da ditadura civil militar instaurada em 1964. Tal projeto, de cunho autoritário e abominável, desrespeita e fere a história, o legado e os valores democráticos defendidos por Vlado em vida”, disse o instituto no comunicado.
O jornalista Vladimir Herzog foi torturado e assassinado pela ditadura militar em 1975. À época, os militares alegaram suicídio, no entanto, a Justiça brasileira rejeitou a alegação e condenou a União pelo assassinato do jornalista. Em 2018, o Estado brasileiro foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo homicídio de Vladimir Herzog.
Edição: Nicolau Soares