Parada desde 2020, a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), na cidade de Araucária, voltará a funcionar. Em comunicado no dia 7 de junho, a diretoria executiva da Petrobrás confirmou o início do processo para retomada das operações, assim como recontratação de empregados demitidos na época. Lideranças sindicais comemoram a notícia e destacam que o retorno da fábrica se trata de uma vitória dos trabalhadores que virá para fortalecer a soberania nacional.
A unidade está parada desde 2020, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ). A interrupção das atividades, à época, foi responsável por uma das maiores greves da história dos petroleiros. Em participação no Programa Quarta Sindical (Brasil de Fato/CUT Paraná), o diretor do Sindipetro PR/SC, Ricardo Marinho e o dirigente do Sindiquímica-PR, Patric Melo relembraram a luta e os impactos negativos do fechamento na vida dos trabalhadores e suas famílias e para o país.
As lideranças destacam ainda que a retomada ampliará a produção de fertilizantes, diminuindo a necessidade de importação e dependência de outros países.
“Reabertura da Fafen-PR” foi tema do Programa Quarta Sindical ( Brasil de Fato Paraná / CUT Paraná / Reprodução
Para Patric Melo, do Sindiquímica, o retorno da Fafen coloca o país novamente como importante produtor de fertilizantes. “Sem dúvida vai ser um impacto grande. Não só a reabertura da Fafen-PR, mas de todas as outras empresas que já estão no radar, como Fafen Bahia, de Sergipe e a inauguração da fábrica em Mato Grosso, que deveria estar em operação já há muito tempo. Isso vai ser essencial para o Brasil e vai ter reflexo quase que imediato. Tenho certeza que serão impactos de colocar o país como expoente que já foi com toda essa disponibilidade no mercado de produção, tanto de fertilizantes como outros insumos que elas vão produzir”, destacou.
Pra o diretor do Sindipetro PR/SC, Ricardo Marinho, a reabertura fortalece a retomada da soberania nacional do país. “A retomada da fábrica é imediata para os trabalhadores, para o entorno da fábrica, na cidade de Araucária. Mas, com o passar do tempo, nós vamos perceber que voltamos a produzir fertilizante no nosso país como antes. Isso é extremamente importante para nossa nação. Nós havíamos terceirizado, estávamos importando os produzidos na Europa, preparados para um solo totalmente diferente daqui. É como se você pegasse o nosso combustível aqui, falando de Petrobras, onde ele tem 23% de mistura de álcool, e levasse para a Europa. Seria prejudicial para os motores lá” diz.
Marinho ainda cita que retrocessos originados pelo governo Bolsonaro poderiam ter extinguido na região Sul o polo da Petrobrás. “Vejam o que estava acontecendo no país e o que já teria acontecido se o governo Bolsonaro tivesse continuado. Infelizmente, nós perdemos refinarias, como aconteceu lá na própria Bahia, perdemos aqui no Paraná, a Unidade de Industrialização do Xisto, que foi vendida no apagar das velas, e a Fafen Paraná que estava fechada. Também estava indo nesse pacote a de Canoas, no Rio Grande do Sul. Não existiria mais Petrobras aqui na região Sul. Não tendo, você deixa de ter um desenvolvimento econômico da região. Basta ver que hoje o combustível mais caro é o da Bahia, que é privatizado. Por isso, além da Fafen, vamos continuar lutando para que outras refinarias sejam estatizadas e reabertas”, conclui.
A Fafen-PR tem capacidade instalada para a produção de 720 mil toneladas/ano de ureia e 475 mil toneladas/ano de amônia, além de 450 mil m³/ano do Agente Redutor Líquido Automotivo (ARLA 32), produto utilizado em veículos a diesel para reduzir as emissões de poluentes. Atualmente, o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo e importa 85% do que utiliza. Antes da hibernação, a Fafen-PR respondia por parte significativa da ureia e amônia do mercado brasileiro, que são matérias-primas na fabricação de fertilizantes.
Trabalhadores serão readmitidos
Na nota publicada pela Petrobrás também há o anúncio que antigos empregados serão readmitidos. A empresa autorizou que a Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa) celebre o acordo e efetue a contratação dos empregados, condicionada à homologação do acordo pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
O TST formalizou, no dia 12 (quarta), um acordo coletivo de trabalho entre a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), a Araucária Nitrogenados S.A. (Ansa), entidades sindicais e o Ministério Público do Trabalho (MPT) para reativar a Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), em Araucária. A audiência foi conduzida pelo ministro Alexandre Ramos.
O acordo prevê a desistência do pedido de condenação por dano moral coletivo – feito pelo MPT em 2020, quando a Petrobrás anunciou o fechamento da empresa – e a recontratação de trabalhadores em exercício naquela época, mas apenas para cargos específicos.
O objetivo é garantir a segurança das operações, diante do elevado grau de periculosidade que a fábrica apresenta. O termo estabelece, também, que a realocação e o ingresso desses trabalhadores na Ansa não gerarão efeitos retroativos dos contratos de trabalho rescindidos.
O diretor do Sindipetro diz que os sindicatos lutarão para que todos os trabalhadores sejam reintegrados. “Estamos muito contentes por estarmos somando junto com o Sindiquímica na luta em trazer os trabalhadores novamente para dentro da fábrica, é uma primeira fase. De 396 quando a fábrica parou, estão voltando nesse momento 243, ainda tem para fora cerca de 60 funcionários que são do administrativo. E, destes tem cerca de 20 mulheres. Não serão esquecidas e esquecidos, faremos uma luta para repor todo o efetivo de quando a fábrica parou,” diz Marinho.
Do dia mais triste para a comemoração
O dia 14 de janeiro de 2020 é relembrado pelas lideranças como um dos mais tristes para os trabalhadores da Fafen. Foi nessa data que a ANSA comunicou ao Sindiquímica Paraná que a fábrica de Araucária seria fechada e todos os trabalhadores, cerca de 1 mil foram imediatamente demitidos.
Melo disse que se emociona ao saber que os trabalhadores serão recontratados, pois o impacto na vida de cada um foi enorme. “A gente fica bastante emocionado quando se lembra desse processo. No dia que foi anunciado que a nossa luta não tinha vingado naquele momento, quando nossos companheiros vieram dar essa notícia depois de tanta discussão no TST que realmente ia ser fechado… todos os trabalhadores ali receberam com uma emoção muito forte, foi muito intenso naquele momento”, relembra.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Pedro Carrano