A 20ª edição da Marcha da Consciência Negra em São Paulo (SP) reuniu integrantes de entidades do movimento negro, partidos políticos, movimentos populares e sindicatos na Avenida Paulista, região central da capital. A concentração começou por volta do meio-dia, no Vão Livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Logo atrás da faixa com os dizeres “a luta continua”, o ato foi conduzido pelo Bloco Afro Ilú Obá de Min.
A presença predominante de jovens contrastou com a de figuras ancestrais reverenciadas em cartazes e falas. Além de lideranças históricas, como Dandara e Zumbi – sendo a data da morte do líder de Palmares o que fez do 20 de novembro o Dia da Consciência Negra –, a ativista quilombola Bernadete Pacífico, executada na Bahia em agosto, também ganhou lugar de destaque na manifestação.
O fim da violência de Estado contra a população negra e periférica predominou entre as reivindicações do protesto. Inaugurada no fim de julho pelo governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a Operação Escudo na Baixada Santista foi lembrada como a mais letal intervenção formal da Polícia Militar de São Paulo desde o massacre do Carandiru em 1992. Acusados por moradores de praticarem tortura e execuções, os agentes do Estado mataram 33 pessoas em 46 dias de ação.
“Vim somar minha voz às dos meus irmãos e irmãs, não só em um momento simbólico de luta pelo povo negro, que vem sendo perseguido pelo Estado, mas também como demonstração de que, geração após geração, nós estamos de pé”, afirmou Monique Brasil, moradora da zona sul da capital paulista e integrante do Movimento Brasil Popular.
“A gente chora, passa pelo luto da violência, mas temos muito o que celebrar nossos mais velhos e mais velhas, que conquistaram muita coisa para a gente estar aqui hoje”, completou Monique.
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Aos 17 anos, Rafaela Rodrigues estuda no cursinho popular da Uneafro e quer cursar medicina. “Cada batuque, cada fala, você sente uma emoção diferente, porque onde eu moro, a maioria das pessoas é branca”, relatou a estudante, que vive em Poá, na Região Metropolitana de São Paulo. “Estar aqui, ver gente igual a você, com o cabelo igual a você, cultura igual à sua, é bom demais”, contou.
Com outras palavras, mas com um sentido similar, a professora Bernadete da Silva diz que não perde nenhuma Marcha da Consciência Negra, por ser ali uma fonte de ânimo para a luta.
“Estamos completando 20 anos de marcha, de luta, de história. Para fazer valer a Lei 10.639/03, que não é fácil”, ilustra Silva, se referindo à obrigatoriedade do ensino sobre história e cultura afro-brasileira nas escolas.
“Não é fácil trabalhar a questão racial dentro da sala de aula porque muitas vezes você não tem apoio, você trava a luta só. É nesses momentos que a gente vem buscar força”, descreveu Bernardete da Silva, moradora de Cidade Tiradentes, extremo leste de São Paulo. “Através dessa marcha espero ganhar força para continuar lutando contra o racismo na sociedade brasileira”, completou.
“O 20 de novembro foi criado em 1978 e tem como tradição exatamente fazer atos de rua”, lembra Flávio Jorge, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), ao ressaltar que a data se tornou feriado em São Paulo: “uma conquista do movimento negro”.
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Este é o primeiro ano em que a data é feriado estadual em São Paulo. Por pressão do movimento negro, o projeto proposto pelo deputado Teonílio Barba (PT) foi aprovado em setembro. Antes, o recesso era decisão de cada município.
Por ter sido também naquele ano de 1978 a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) nas escadarias do Theatro Municipal é que o local, no centro da capital paulista, foi escolhido como ponto final do ato desta segunda-feira (20).
Edição: Geisa Marques