De janeiro a setembro deste ano, um milhão de hectares pegaram fogo em São Félix do Xingu (PA), colocando o município em primeiro lugar entre os que mais queimaram em 2024. Em segundo lugar, está Corumbá (MS), com 741 mil hectares incendiados. Os dados são da plataforma Monitor do Fogo, uma parceria entre o Mapbiomas e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). No Brasil, os incêndios consumiram uma área do tamanho do estado de Roraima entre janeiro e dezembro deste ano, o que representa um aumento de 150% em comparação a 2023.
Além do fogo, os dois municípios mais incendiados compartilham outro dado. Nesses lugares, estão os maiores rebanhos bovinos do país. Em Corumbá, onde vivem cerca de 96 mil pessoas, o rebanho conta com 1,9 milhão de cabeças, o que dá 20 bois por habitante. Já em São Félix do Xingu, são mais de 2,5 milhões de cabeças de gado, cerca de 38 bois por pessoa, considerando a população de 65 mil habitantes.
O uso do fogo é comum nas práticas agropecuárias, como explica Ane Alencar, diretora de Ciências do Ipam e coordenadora do Mapbiomas Fogo. “E o uso do fogo na prática agropecuária no ano muito seco significa que aumenta muito o potencial desse fogo escapar e virar incêndio. E foi o que aconteceu”, diz.
Em setembro, agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) multaram dois fazendeiros acusados de incendiar uma área de aproximadamente 333 mil hectares em Corumbá. O território incendiado tem o dobro do tamanho da cidade de São Paulo e a multa aplicada foi no valor de R$ 50 milhões para Ademir Aparecido de Jesus e outros R$ 50 milhões para Luiz Gustavo Battaglin Maciel.
Nesta quinta-feira (10), a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Arraial São João para investigar os incêndios criminosos no município. Durante as investigações, os dados coletados revelaram que a área queimada é alvo reiterado deste tipo de crime ambiental e também de grilagem das áreas com a realização de fraudes junto aos órgãos governamentais.
Diferentes biomas
Em São Félix do Xingu, no bioma amazônico, quase 25% do território é ocupado por pastagens. O fogo, no entanto, avança para a mata nativa. Em 2024, 50% da área queimada no município é de floresta. Em segundo lugar, ficam as pastagens, que correspondem a 38% dos incêndios registrados no município entre janeiro e setembro. São Félix do Xingu está na lista dos municípios que concentram altos índices de desmatamento da Amazônia, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
No caso de Corumbá, município que mais perdeu superfície de água em 2023, a maior parte das chamas consumiu as áreas de planícies alagáveis. Com a seca histórica do Pantanal, essas regiões se tornaram mais inflamáveis.
Alencar ressalta que a ação humana alimenta um ciclo de secas e incêndios. “O fogo começou com a ação humana e se espalhou, mas por uma condição propiciada pelo clima”. A seca, por sua vez, se agrava com as queimadas e o desmatamento.
Edição: Thalita Pires