Com a prisão dos quatro militares integrantes do grupo de elite das forças armadas, o kids pretos, as investigações da Polícia Federal chegam mais perto do ex-presidente Jair Bolsonaro. A avaliação é de Mayra Goulart, cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em entrevista ao programa Central do Brasil nesta terça-feira (19). Os militares foram presos pela Operação Contragolpe, que busca desarticular uma organização criminosa que planejou um golpe de Estado a fim de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entre os presos, está o general da reserva Mario Fernandes, que foi um dos homens de confiança de Bolsonaro no Palácio do Planalto. Menos de dois meses depois de ter passado à reserva do Exército, ele foi alçado ao cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral. Em outubro de 2022, o ex-presidente escolheu o general para exercer o cargo de Autoridade de Monitoramento da Lei de Acesso à Informação, função ligada à Secretaria-Geral da Presidência da República.
“Chega cada vez mais perto da cúpula do poder”, afirma Goulart, que aponta este novo fato como mais um elemento de conexão entre governo Bolsonaro e os atos golpistas. “Estava sim sendo organizado a partir de cima, não só de uma cúpula política, mas também militar e com financiamento empresarial”, ressalta.
A cientista lembra de outros elementos, como a minuta do golpe e as investigações sobre o 8 de janeiro, que indicam a participação da alta cúpula do governo nos planos antidemocráticos. Na avaliação de Goulart, a prisão dos militares do grupo de elite é mais um argumento contra a anistia dos golpistas envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
“A gente teve uma sequência de eventos demonstrando a fragilidade do nosso arcabouço institucional diante dessa investida da extrema direita global e nacional e, portanto, não podemos passar mensagens dúbias acerca do caráter criminoso desses atentados”, diz.
Para ela, a adesão de parte da população às ideias da extrema direita não deve ser impeditivo para a punição dos sujeitos vinculados às práticas golpistas.
“Existe o Estado democrático de direito e as suas legislações já permitem a punição desses envolvidos. A aplicação da lei me parece ser o caminho mais seguro para passar essa mensagem de limite ao papel das Forças Armadas”, finaliza.
Assista à entrevista de Mayra Goulart no programa Central do Brasil:
Edição: Martina Medina
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