O engenheiro agrônomo Francisco Graziano Neto comparecerá à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), nesta terça-feira (13). Nas redes sociais, o ex-deputado federal costuma desqualificar o MST, associando o movimento a supostos episódios de violência e ao que chama de “terrorismo”.
“A maior enganação de nossa democracia é considerar o MST como um ‘movimento social’. Daí se permite o terrorismo agrário das invasões de terra, foices e facões dos justiceiros do campo”, publicou em seu perfil no Twitter.
Na mesma linha, em fevereiro de 2019, Graziano comemorou a nomeação do general João Carlos Jesus Corrêa para a presidência do Incra. “Acabou a moleza e a safadeza. Exército vermelho do MST/Contag vai enfrentar um General do Exército Verde Amarelo no Incra. Basta de foices e facões na reforma agrária. Chega de bandidagem. Bota ordem na casa Gal João Carlos Jesus Corrêa!”, publicou.
Quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tomou posse, Graziano também celebrou. “Anúncio do Plano Safra acabou com uma jabuticaba da política agrícola. Antes, havia duas cerimônias: numa Lula adulava os empresários rurais; noutra, vestia o boné do MST. Agora com Jair Bolsonaro uma só agricultura, unida, estava no Palácio do Planalto. Chega de cizânia no campo”, escreveu em seu Twitter.
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No mesmo ano, Graziano chegou a chamar João Pedro Stedile, uma das lideranças do MST, de “assassino” e “terrorista”. Um ano depois, publicou: “Fanáticos políticos, fascistas ou comunistas, são detestáveis. Promovem ações violentas para causar. Alguns para se vitimar. O MST colocava crianças no colo nas invasões, torciam para que se derramasse sangue inocente. Outros provocam para ser presos. Pensam em virar mártires”.
A deputada federal Caroline De Toni (PL-SP), autora do requerimento que viabilizou o convite, defende que Graziano deve ser ouvido sobre os assentamentos da reforma agrária e os “casos de invasões” promovidos pelo MST e pela Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL).
Ex-presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Graziano deve sair em defesa dos grandes ruralistas que compõem o agronegócio brasileiro. Em seu perfil no Twitter, ele afirmou que apresentará um “relatório” sobre o processo da reforma agrária no Brasil.
Há tempos, Xico Graziano, como é conhecido, argumenta que não haveria terras de latifúndios ou áreas inexploradas em quantidade suficiente no país para viabilizar uma reforma agrária, nem trabalhadores suficientes demandando pelas terras. O ex-deputado federal também afirma que as ocupações de propriedades realizadas pelo movimento prejudicariam a segurança jurídica e o desenvolvimento econômico.
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“Já disse antes e vou repetir: não existe mais terra ociosa no Brasil. Se esses malucos invadirem propriedade rural, será em fazenda produtiva”, disse recentemente Graziano contrariando, por exemplo, dados do Atlas da Terra Brasil.
Segundo o levantamento feito pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), existiam 175,9 milhões de hectares improdutivos em 2015 – de acordo com o Incra, um imóvel é considerado improdutivo quando não alcança os graus de exploração exigidos por lei.
Além de deputado federal (PSDB-SP) entre 1998 e 2006, Xico Graziano é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Ele também já presidiu a Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (1972-73), já foi chefe de gabinete do presidente da República na gestão de Fernando Henrique Cardoso, secretário estadual de Agricultura em São Paulo (1996-98) e secretário estadual do Meio Ambiente na gestão de José Serra (2007-2010).
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Em 2010, Graziano coordenou a elaboração do programa de governo de José Serra como candidato à presidência. Na eleição presidencial seguinte, em 2014, foi um dos coordenadores da campanha do candidato Aécio Neves. Em 2018, ele deixou o PSDB e apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro (PL).
Edição: Nicolau Soares