As investigações que levaram à deflagração da operação Eureka, que prendeu mais de 100 pessoas em oito países europeus ligadas à máfia ‘ndrangheta nesta quarta-feira (3), mostraram que o traficante Rocco Morabito – detido no Brasil em 2021 – ofereceu um “contêiner de armas de guerra” para um grupo criminoso brasileiro.
O caso que culminou nas prisões hoje começou a ser investigado em junho de 2019 em uma cooperação entre os carabineiros italianos e a polícia federal da Bélgica. À época, as análises eram sobre pessoas consideradas próximas ao clã Nirta, de San Luca, e que atuavam em Genk.
Sponsored By
Em um primeiro momento, a investigação estava toda orientada para alguns expoentes da família Strangio, conhecidos como “Fracascia”, e que era ligados à Nirta.
Com o andar das análises, coordenadas pelo procurador Giovanni Bombardieri, também foram incluídas as investigações sobre as várias famílias da Locride, área da Calábria ao redor da cidade de Locri, incluindo o clã Bianco. O dinheiro do narcotráfico era lavado em vários locais por ali, com restaurantes, no turismo e no setor imobiliário.
Então, os investigadores descobriram três grandes associações de grupos criminosos.
A primeira envolve a família Nirta “Versu”, de San Luca, que tinha uma articulação no Brasil e era representada pelo fugitivo italiano Vincenzo Pasquino, capturado em 2021 ao lado do “rei da cocaína” Rocco Morabito.
A segunda é a família Mommoliti “Fischiante”, de Bovalino, com articulações na Puglia, Abruzzo, Lazio, Toscana e Lombardia e contatos diretos com fornecedores sul-americanos de cocaína e com traficantes internacionais, como Denis Matoshi, atualmente fugitivo e que está em Dubai.
A terceira associação tem como chefe a família Strangio “Fracascia”, ligada aos clãs Nirta-Strangio envolvidos no ataque de Duisburg, em 2007. Essa tinha articulações na Bélgica, Alemanha, Espanha e Austrália.
Analisando todos esses laços, a investigação esclareceu ainda alguns pontos da fuga de Morabito, um dos criminosos mais procurados da Itália nos últimos anos, e de Pasquino.
Ambos estão na ordem executada pela Direção Distrital Antimáfia (DDA) de Nápoles, que contou com a colaboração entre a Polícia Federal, no Brasil, do FBI e da Administração de Fiscalização de Drogas, nos Estados Unidos, e da Interpol.
Morabito, segundo a acusação, teria oferecido o contêiner de armas de guerra a uma organização brasileira em troca de grandes quantidades de drogas, que seriam enviadas para o porto italiano de Gioia Tauro.
“No andamento das investigações, foi documentada a organização por parte de Morabito de uma expedição para o Brasil de um contêiner carregado de armas de guerra, provenientes de países que fizeram parte da União Soviética, e fornecidas também por uma organização criminosa que opera na Itália e no Paquistão”, diz o documento.
E mesmo com a prisão dos chefões, o tráfico de drogas continuou a todo vapor. Segundo os investigadores, os clãs envolvidos movimentaram cerca de seis toneladas de cocaína entre maio de 2020 e janeiro de 2022.
Os investigadores ainda reconstruíram os fluxos de dinheiro reconduzíveis às compras e às vendas das drogas, que vinham de várias organizações compostas por pessoas de nacionalidade estrangeiras. As movimentações atingiram Brasil, Panamá, Colômbia, Equador, Bélgica e Países Baixos.