O Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ entra na pauta do Bem Viver desta quarta-feira (28). A partir da história da Revolução de Stonewall, nos Estados Unidos, a edição compartilha uma entrevista com a drag queen Ruth Venceremos e repercute uma denúncia sobre homofobia em uma instituição de ensino superior de Mato Grosso.
Ao juntar celebração e bandeira de luta, o programa radiofônico ressalta ainda desafios como as diversas formas de violência no cotidiano de lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queers, intersexos, assexuais e outras identidades de gênero e orientações sexuais. Na semana passada, por exemplo, o Dossiê de Mortes Violentas contra LGBTI+ revelou pelo menos 316 mortes de pessoas desta comunidade em 2021. Um aumento de 33% em relação ao ano anterior.
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Stonewall
Há 54 anos, um ato de coragem e resistência desencadeou uma revolução para afirmar direitos para a diversidade sexual em Nova York, nos Estados Unidos. Na época, o Stonewall Inn era o único bar que servia bebidas a gays, lésbicas, transexuais e drag queens em todo o território do país. O estabelecimento, controlado pela máfia, burlava as leis estadunidenses, que, na época, proibiam a comercialização para o público homossexual.
Porém, na noite de 28 de junho de 1969, a polícia decidiu quebrar o acordo e invadir o Stonewall Inn. Os agentes ameaçaram prender funcionários e clientes, tentando oprimir e silenciar o público presente. Entretanto, a operação policial se deparou com pessoas que decidiram resistir e lutar pelo direito de ser quem se é. Ao invés de fuga, a clientela do bar encurralou os agentes e fez eclodir uma movimentação que durou cinco dias pela cidade.
O ato marca ainda hoje o movimento LGBTQIA+, ao se espalhar além das fronteiras dos Estados Unidos. No calendário, a Revolta de Stonewall celebra o dia 28 de junho com Paradas de Orgulho ao redor do mundo, ao erguer bandeiras com a mensagens contra a opressão e o silenciamento, com um ecoar de vozes pela liberdade diversa.
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Orgulho
Em artigo publicado pelo Brasil de Fato, a drag queen e ativista Ruth Venceremos afirma que “para as pessoas que pertencem à população LGBTQIA+ a palavra orgulho é sinônimo de outra palavra: vida”. Ela destaca a importância desse sentido da palavra como uma descoberta coletiva do “poder que o orgulho tem na transformação social e no combate às opressões geradas pelo preconceito”.
Também pedagoga, Ruth compartilhou um pouco desse orgulho nos contextos dos direitos populares na edição do Bem Viver desta quarta-feira (28). Ela ensina, por exemplo, que a luta pela terra e contra a homofobia andam juntas.
“A drag quando está montada ela por si só já chama atenção, ela carrega uma uma mensagem potente. Uma mensagem num país que mais mata LGBTQIA+, você se montar para performar, você se montar, para fazer alguma intervenção na sociedade, por si só já é político, porque mexe e bagunça com as normas patriarcais de gênero”, afirma Ruth em entrevista no Bem Viver.
Drag, ou transformismo, é uma linguagem artística que brinca com estereótipos de gênero, e é muito importante na cultura LGBT+. São artistas que criam personagens marcantes, que podem não só entreter, mas também gerar reflexão e até mudar o país.
Quem dá vida à personagem de Ruth Venceremos é Erivan Hilário dos Santos, de 38 anos, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde a adolescência, que nasceu no sertão de Pernambuco, mas que hoje vive em Brasília.
“Foi no território do MST em que eu pude continuar me expressando quem eu era, enquanto uma bicha preta, enquanto uma pessoa LGBTQIA+”, lembra a artista.
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Denúncia
Um estudante de direito denuncia uma série de agressões homofóbicas, inclusive com ameaças de morte, sofridas dentro das estruturas da União das Faculdades Católicas de Mato Grosso (Unifacc-MT). Além disso, afirma que a direção da instituição se omite em relação aos agressores.
A vítima, que prefere não se identificar, conta que sofre com os ataques desde 2022 quando, no contexto da disputa eleitoral, recebeu carta com ameaça de morte e teve o material didático rabiscado com ofensas. Na época, a instituição afirmou que repudiava o fato e que tinha aberto investigação.
Neste ano, porém, a situação piorou, segundo o aluno que foi agredido. Ao Brasil de Fato ele disse estar sendo alvo de novas agressões homofóbicas e que a postura da faculdade é de omissão, ou até mesmo, perseguição.
Em nota, a Unifacc-MT afirmou que “tem tomado as providências internas no sentido de acolher o acadêmico para não haver prejuízos pedagógicos” e que está averiguando as ocorrências denunciadas.
Edição: Daniel Lamir