Um novo livro com uma entrevista do papa Francisco será lançado na Argentina e trechos do material, produzido pelos jornalistas Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin, foram divulgados neste domingo (26).
Ao ser questionado sobre as acusações de que “faz política” à frente da Igreja Católica, o pontífice não fugiu do assunto.
“Sim, eu faço política porque todos devem fazer política. O povo cristão deve fazer política. Quando lemos o que Jesus disse, vemos que ele estava envolvido na política. E o que é a política? Um estilo de vida para o povo. Aquilo que eu não faço, e nem a Igreja deve fazer, é a política dos partidos. Mas, o Evangelho tem uma dimensão política, que é aquela de converter a mentalidade social, também religiosa, das pessoas”, disse aos repórteres.
Nas 346 páginas da obra, dividida em 19 capítulos, há uma série de temas importantes e polêmicos, incluindo os escândalos financeiros e patrimoniais e as questões das denúncias de pedofilia de religiosos.
“O meu programa de governo é aquele de executar o que foi declarado pelos cardeais nas congregações gerais na vigília do conclave […] revitalizar o anúncio do Evangelho, reduzir o centralismo vaticano, banir a pedofilia. E combater a corrupção econômica… peço desculpas se alguém não percebeu de como isso ia terminar”, acrescentou.
Questionado sobre as acusações de ser “comunista”, Francisco ressaltou que “não condena o capitalismo, nem é contra o mercado”.
“Sou a favor do que João Paulo II definiu como ‘economia social de mercado’. Concentro-me preferencialmente sobre os pobres porque foi isso que Jesus fez e o que o Evangelho diz. E o que penso, e acho que estamos todos de acordo, é que a concentração da riqueza e as desigualdades aumentaram – e que há muitas pessoas que morrem de fome. […] O problema econômico mais urgente hoje é que prevalecem as finanças e, de certa forma, o capitalismo é quase uma coisa do passado”, pontuou.
Sobre as crises financeiras internas, que vem sendo tema recorrente em decretos e falas do Papa, o líder católico ressaltou que “a grande maioria dos membros [da Igreja] é sã, mas não se pode negar que alguns eclesiásticos e muitos, diria, falsos ‘amigos’ laicos da Igreja contribuíram para se apropriar indevidamente do patrimônio móvel e imóvel, não do Vaticano, mas dos fiéis”.
Falando sobre o escândalo da compra de um prédio de alto luxo em Londres com dinheiro do Óbolo de São Pedro, órgão de caridade católico, o pontífice ressaltou que “fomos nós que denunciamos a compra suspeita do imóvel”. O caso está sendo julgado pelo tribunal vaticano.
“Me alegrei porque isso significa que cada administração vaticana tem os recursos para esclarecer sobre as coisas feias que acontecem internamente. Mas, reconheço que colocar tudo em ordem não foi fácil e que sempre há a possibilidade que apareça uma nova situação danosa, mesmo que seja mais difícil fazer isso”, pontuou.