Por Pedro Venceslau
Um dos mais aguerridos defensores do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, de 47 anos, recebeu 604.918 votos e foi o 4° deputado federal mais votado de São Paulo em 2022. O capital eleitoral o estimula a se movimentar para tentar se cacifar como candidato do campo bolsonarista à Prefeitura em 2024. Os planos, porém, esbarram na relação próxima que seu partido, o PL, mantém com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) – que vai disputar a reeleição.
“Por mais que o prefeito queira os votos da direita, ele não tem essa relação com o presidente Bolsonaro. Ricardo Nunes nem sequer apoiou o Bolsonaro no 2° turno”, disse ele, nesta entrevista ao Estadão.
Salles foi ministro entre 2019 e 2021. Sua gestão foi marcada por polêmicas. Em uma reunião ministerial em abril de 2020, ele sugeriu a Bolsonaro que aproveitasse o momento em que atenção da imprensa estava voltada para a pandemia da covid-19 para ir “passando a boiada” na área ambiental, flexibilizando regras. A seguir os principais trechos da entrevista:
O sr. quer ser candidato a prefeito da capital, mas o seu partido, o PL, está na gestão Ricardo Nunes e cogita apoiá-lo. Espera se firmar como representante do bolsonarismo em SP?
Sim, com certeza a minha expectativa é ser o candidato do presidente em São Paulo pelo fato de ter uma ligação com ele e ter sido seu ministro. Por mais que o prefeito queira os votos da direita, ele não tem essa relação com o presidente Bolsonaro. Ricardo Nunes nem sequer apoiou o Bolsonaro no 2° turno.
Essa é a intenção de Nunes? Ele diz que não é de direita..
Ele quer os votos da direita, mas declarou para o Estadão que não será o candidato da direita. Se ele não quer ser o candidato da direita, por que quer os votos dela? Eu sou o candidato da direita. Ricardo Nunes foge dessa posição. O partido dele está na base do Lula e tem ministérios.
No ano passado, Lula e Haddad venceram a eleição na capital paulista. Um nome com perfil moderado teria mais chance nesse campo da direita?
João Doria venceu na capital em 2016 com um discurso bem à direita. Existe esse espaço. Não digo que meu discurso será radical. Ser de direita não é ser radical. Não existe essa correlação. Essa coisa de radicalismo no fundo é usada para desqualificar. Não tem problema nenhum em ter um candidato da direita. São Paulo vive um momento de desordem e caos. Isso abre espaço para uma candidatura de direita que tenha um choque de civilidade como o do Rudolph Giuliani em Nova York em 1993. Aquela regra da lei e ordem, ou da tolerância zero, foi um choque de civilidade. São Paulo está precisando disso. A cidade está um horror, e não é por falta de dinheiro. Tem R$ 30 bilhões em caixa.
Como está sua articulação no PL? O presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, esteve recentemente com o prefeito e sinalizou um possível apoio…
Ricardo é o prefeito, por isso tem a máquina a seu favor. O PL tem a Secretaria de Meio Ambiente e duas subprefeituras, do Campo Limpo e Butantã. Há um certo cuidado do Valdemar, e é natural que seja assim, dele tomar qualquer decisão ou dar sinais de que pode não estar com o prefeito. Isso pode implicar na perda do espaço que o partido já tem na Prefeitura.
Se o PL apoiar o Nunes, o sr. pode mudar de partido para disputar a Prefeitura?
Essa é uma discussão que vamos ver. Não estou vendo o PL com o Ricardo. Só há uma chance disso acontecer: se o Ricardo Nunes melhorar muito a ponto de ser viável. Hoje ele não é. O prefeito não é conhecido e tem uma alta taxa de rejeição. A maioria das pessoas não o conhece. E quem o conhece o rejeita.
Conta com apoio de Tarcísio em 2024?
Estive com ele semana passada. A posição dele é ter uma parceria administrativa com o prefeito. É correto que mantenha isso. Mas, se nós mostrarmos viabilidade eleitoral, é óbvio que ele vai preferir ficar com o campo que o elegeu, que foram a direita e os bolsonaristas.
O sr. acha que teria viabilidade fora do PL?
Se o PL ficar com o Ricardo Nunes, a eleição está perdida. O Nunes não ganha do (Guilherme) Boulos. Isso abre espaço para minha candidatura. O presidente (Bolsonaro) não vai apoiar o Ricardo Nunes. Entre ele e eu é óbvio que vai apoiar a mim.
Bolsonaro lhe disse isso?
Nem precisa dizer. O ministro dele era eu. Ricardo Nunes não apoiou Bolsonaro no 2° turno.
A escolha do Boulos como candidato do PSOL com apoio do PT facilita a sua estratégia?
Se tem alguém que é a face invertida dessa moeda sou eu. Para mim é fácil debater com ele. Temos 100% de divergência.
Michelle Bolsonaro terá voo próprio na política?
O capital político é do Bolsonaro. Michelle fez um bom trabalho como primeira-dama, especialmente nos assuntos de voluntariado. Mas ninguém vai fazer nenhum movimento sem que o presidente esteja de acordo ou incentive.
Bolsonaro vai ficar inelegível?
Há claramente uma linha de atuação do TSE que prepara um processo nesta direção de torná-lo inelegível.
Nesse cenário, quem seria o herdeiro (ou herdeira) dele em 2026?
Está cedo para dizer. Tem muita gente no páreo: Michelle, Tarcísio, (Romeu) Zema…
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.