Em breve, o PT deve confirmar que Marta Suplicy será a candidata a vice na chapa encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) na corrida pela prefeitura de São Paulo, neste ano. Quando voltar a caminhar pelas ruas do município, a ex-prefeita ainda encontrará marcas indeléveis de sua gestão, que em 2025 completará 20 anos.
A rotina do paulistano de 2001 era de exaustivas viagens entre terminais de ônibus, a fim de baratear a viagem, já que não havia custo na baldeação feita nesses locais. Foi então que Marta Suplicy criou o Bilhete Único, que garantia ao usuário do transporte o pagamento de apenas uma passagem, mesmo que ele usasse até quatro ônibus para se locomover até seu destino.
O Bilhete Único foi implementado em maio de 2004 e, de lá para cá, segue intocável na vida paulistana. Se modernizou, mas não há candidato ou gestor do município que considere retirá-lo da rotina do usuário de transporte público na capital paulista.
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Para além da facilidade de locomoção, a adoção do Bilhete Único fez despencar o número de assaltos a ônibus em São Paulo, que cobravam a passagem em dinheiro ou bilhete. Em 2003, foram 11.394. Em 2004, ano em que o cartão foi adotado, este número caiu para 6.426.
Também na área de transporte, outra iniciativa de Marta Suplicy que ocupa a paisagem do cotidiano paulistano nas periferias são as lotações usadas para a ligação entre bairros e terminais. Na época, a ex-prefeita enfrentou a chamada “máfia dos transportes”, que era um grupo que controlava o fluxo de vans clandestinas que atendiam áreas não cobertas pelo transporte público.
A Prefeitura de São Paulo onde a conhecemos hoje, no Edifício Matarazzo, no Viaduto do Chá, é uma iniciativa também do governo de Marta Suplicy, que inaugurou a nova sede em 25 de janeiro de 2004, quando o município completou 450 anos.
Desde 1992, a Prefeitura de São Paulo tinha sua sede no Palácio das Indústrias, no Parque Dom Pedro, ao lado do terminal de ônibus. Hoje, no edifício, que é tombado Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo (CONDEPHAAT), funciona o Museu Catavento.
Educação
Em agosto de 2003, nascia o Centro Educacional Unificado (CEU), projeto da gestão de Marta Suplicy inspirado na escola Parque de Anísio Teixeira, nos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps) do antropólogo e historiador Darcy Ribeiro e nas ideias de Paulo Freire. Os CEUs oferecem diversos espaços pedagógicos para apropriação da comunidade e reurbanização local.
A ideia, desde o princípio, foi que os CEUs fossem criados nas periferias de São Paulo e ofertassem educação em período integral e se tornassem opções de lazer para as comunidades aos finais de semana.
Os edifícios dos CEUs, sempre coloridos e suntuosos, passaram a ganhar destaque na paisagem das periferias de São Paulo e rapidamente a população se apropriou dos espaços, tornando inviável para qualquer prefeito pós-Marta a dissolução de sua estrutura física.
Ao todo, São Paulo possui 46 CEUs, que atendem 120 mil alunos, de acordo com a Prefeitura da capital. Desse total, 21 unidades foram entregues na gestão de Marta Suplicy.
O prefeito seguinte, José Serra (PSDB), surpreendeu a população e cancelou a construção de outras 24 unidades que estavam previstas. Quando o tucano abandonou a Prefeitura para concorrer à presidência da República, em 2006, Gilberto Kassab (PSD) assumiu e concluiu 21 novos CEUs.
Outro equipamento proposto por Marta para promover a inclusão digital nas periferias sucumbiu ao tempo. Eram os Telecentros, criados em áreas anexas a parques e praças. Neles, os paulistanos encontravam computadores com acesso à internet que podiam ser acessados após um cadastro simples.
Taxas e derrotas
Apesar da gestão histórica, Marta Suplicy não conseguiu se reeleger e perdeu a corrida eleitoral de 2004 para José Serra. Inicialmente, o desempenho da então petista nas pesquisas era bom. Porém, seu governo criou dois novos impostos, a Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares (TRSD), que incidia sobre a produção de lixo, e a Contribuição Para Custeio da Iluminação Pública (Cosip), que tributava o acesso à energia, e a relação com a população azedou.
Os dois novos impostos fizeram a arrecadação da Prefeitura com impostos saltar 24%, pulando de R$ 4,97 bilhões, em 2000, para R$ 6,16 bilhões, em 2004. Rendeu também o apelido de “Martaxa” para a ex-prefeita. A alcunha foi levada para a urna e derrubou sua candidatura.
Quando disputou a Prefeitura de São Paulo, em 2016, pelo MDB, Marta Suplicy teve que responder inúmeras vezes sobre a criação de impostos em seu governo. Após um debate na capital paulista declarou: “Eu vou ter que responder por bastante tempo que me arrependo das taxas), mas eu aprendi”.
Edição: Nicolau Soares