Por Eduardo Laguna e Jorge Barbosa
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse neste domingo, 28, que o esvaziamento, ao qual chamou de “amputações”, sofrido na última quarta-feira por sua pasta atinge os interesses estratégicos do Brasil não apenas ambientais, mas também econômicos.
Em entrevista à GloboNews junto com a ministra Sonia Guajajara – dos Povos Indígenas, pasta que também teve poderes retirados na reestruturação de ministérios aprovada por comissão especial no Congresso -, Marina pontuou que vários investidores já consideram as dificuldades de investir no Brasil em razão das sinalizações dadas pelo Congresso.
“Isso se reflete nos interesses estratégicos em termos econômicos e ambientais”, declarou a ministra, lembrando que o mundo está fechando as portas a economias intensivas em carbono. “Se existe um país que pode ter economia de baixo carbono, esse país é o Brasil.”
A ministra não deixou de reconhecer as contradições que existem em um governo de frente ampla, porém procurou demonstrar confiança de que as decisões da comissão serão revertidas quando chegarem ao plenário. “Até chegar ao plenário, existe espaço de diálogo com o Congresso”, assinalou Marina, antes de dizer que tem “esperança” quanto a um reposicionamento das lideranças do Legislativo.
Segundo ela, essas lideranças sabem dos interesses do agronegócio, da balança comercial e dos investidores que estão em jogo. “Nós estamos trabalhando até o último momento para preservar nossas competências”, afirmou Marina. “O negacionismo não vai prevalecer, vai prevalecer o mérito das questões”, acrescentou.
Marco temporal
Sonia Guajajara afirmou que o projeto de lei do marco temporal na demarcação de terras indígenas, o PL 490, é decisivo para os povos indígenas no Brasil. A ministra se posiciona de forma contrária ao projeto e defende que a sociedade deve se mobilizar para dizer não à aprovação da legislação.
“É um projeto de lei gravíssimo, que paralisa a demarcação das terras indígenas e não contribui em nada no que de fato precisamos fazer, que é reduzir as emissões de gases do efeito estufa e combater as mudanças climáticas. Todas as pessoas precisam cobrar seus parlamentares para que possam dizer não ao PL 490”, pediu a ministra.
Questionada sobre a decisão do Congresso de promover anistia ao não cumprimento das metas de cotas mínimas para a presença de mulheres e pessoas negras nos partidos políticos, a ministra dos Povos Indígenas subiu o tom das críticas, afirmando que a instituição é atravessada pelo machismo e racismo estruturais. Sonia Guajajara disse ainda que há parlamentares que alimentam o ódio contra o governo Lula.
“A reação do Congresso Nacional é uma resposta de combate à participação de mulheres nesses espaços e é também, eu diria, um racismo impregnado, que não é somente contra pessoas negras, mas também acontece contra indígenas todos os dias. Eu diria que é um Congresso que destila o seu racismo, machismo e toda a raiva contrária ao governo Lula”, frisou.
Ela admitiu que a última semana foi realmente muito turbulenta, mas se colocou à disposição para conversar com deputados e bancadas na tentativa de reverter alguns votos de parlamentares que se posicionaram pelo esvaziamento de seu ministério.