Na quarta-feira (26), o governo federal nomeou o economista Marcio Pochmann como presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conforme anunciado pelo ministro-chefe da secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta. Pochmann assumirá o cargo em substituição a Cimar Azeredo, que estava ocupando interinamente a presidência e é funcionário de carreira do órgão.
Conhecido por sua vasta experiência na área econômica, com enfoque em temas como economia social, desigualdade, mercado de trabalho e desenvolvimento, a indicação de Pochmann para a presidência do IBGE gerou ressalvas entre economistas mais liberais e representantes do mercado financeiro.
Em texto publicado no jornal O Globo, na última segunda-feira (24), sobre a possível nomeação, a jornalista Miriam Leitão, por exemplo, afirmou que o economista “fez uma gestão ideológica no Ipea [Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada] e o fará no IBGE, caso seja confirmado”. Ela afirmou que “um risco é sempre a interferência na metodologia quando os dados não forem favoráveis ao governo”.
Diante dos comentários, antes de ser oficialmente nomeado para o cargo, a Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (Abed) publicou uma nota pública em defesa do economista. A entidade, que reúne economistas, estudantes e outros profissionais e acadêmicos voltados à área econômica, afirmou que “não há perfil puramente técnico entre economistas e, tampouco, entre os jornalistas ou entre profissionais de qualquer outro ramo”. Também destacou que Pochmann “tem uma longa carreira acadêmica e profissional e, como é prática dessa carreira, foi ampla e recorrentemente avaliado por seus pares”.
Em nota divulgada à imprensa, o Partido dos Trabalhadores (PT) de Campinas também manifestou apoio à decisão do governo de indicar Marcio Pochmann. Na declaração, o PT destacou a trajetória acadêmica e profissional do economista, afirmando que a nomeação é uma escolha acertada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Formação
Pochmann é professor de economia, atuando tanto na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) quanto na Universidade Federal do ABC (UFABC), ambas localizadas em São Paulo. Ele se graduou em Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1984. Prosseguindo seus estudos, fez mestrado em Ciências Políticas na Associação de Ensino Superior do Distrito Federal e, em 1993, concluiu o doutorado em Ciência Econômica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde posteriormente tornou-se professor em 1989.
Próximo ao Partido dos Trabalhadores (PT), Pochmann exerceu o cargo de secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade na Prefeitura de São Paulo entre 2001 e 2004, durante governo de Marta Suplicy (PT). Também ocupou, ao longo de sua carreira, a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2007 a 2012, e da Fundação Perseu Abramo entre 2012 e 2020. Em um período mais recente, também presidiu o Instituto Lula.
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Além de sua atuação acadêmica e em instituições, Pochmann ingressou na política como candidato à prefeitura de Campinas (SP) em junho de 2012, sendo derrotado por Jonas Donizette (PSB) no segundo turno. Ele novamente concorreu ao cargo de prefeito da cidade em 2016, mas ficou em terceiro lugar na disputa. Em 2018, tentou se eleger como deputado federal por São Paulo e obteve 53.261 votos, garantindo uma vaga como suplente.
No ano passado, Pochmann também integrou o grupo de transição do governo Lula no grupo de Planejamento, Orçamento e Gestão.
O economista também tem atuação da literatura, sendo autor de mais de 50 livros sobre economia. Três deles – Crescimento econômico e distribuição de renda (em 2008), Enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (em 2007) e A Década dos mitos (2002) – garantiram-lhe prêmios Jabuti.
Posicionamentos
Em suas redes sociais e publicações em veículos de comunicação, Pochmann ficou conhecido pelas críticas às políticas econômicas mais liberais e pela defesa de um Estado mais forte. Ele chegou a defender, por exemplo, uma proposta de reforma tributária para acabar com o PIS (Programa de Integração Social) e a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) sobre o consumo. O modelo previa a cobrança de uma alíquota de 60% para quem tinha renda superior a R$ 50 mil mensais e de pelo menos 1% de imposto sobre grandes fortunas.
O economista também se manifestou contra as reformas trabalhista e da Previdência, que foram aprovadas pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, respectivamente. Pochmann afirmou que a reforma trabalhista “permitiu que, mesmo sem aumentar a riqueza, o Brasil acumulasse mais ricos. Esse milagre se deve, em parte, à reforma trabalhista que, ao reduzir direitos, comprimiu o custo do trabalho em favor da engorda de lucros e resultados dos de sempre beneficiados”, disse em 5 de janeiro do ano passado.
Ele chegou a sugerir, inclusive, que a reforma trabalhista fosse revogada aos moldes do que fez a Espanha, cuja legislação inspirou a mudança no Brasil. “Um exemplo para o Brasil progressista perseguir. Na Espanha, a aliança política de esquerda construiu um plano de governo que revoga a reforma trabalhista e estabelece mais impostos aos ricos.”
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O mesmo posicionamento sobre a reforma da Previdência foi publicado em suas redes. Em julho de 2019, logo após a aprovação da nova legislação na Câmara dos Deputados, Pochmann afirmou que a medida “exclui 12,7 milhões de trabalhadores do abono salarial. Mais uma perda de direitos dos trabalhadores, sem alterar privilégios dos já privilegiados”.
Pochmann se posiciona de maneira contrária às privatizações. O economista atribui, por exemplo, a alta dos preços da gasolina no Brasil, intensificada durante o governo Bolsonaro, à privatização da Petrobras e de suas distribuidoras de combustíveis, o que possibilitou que cerca de 400 empresas importassem combustíveis dos Estados Unidos, pagando em dólar, mesmo com o Brasil sendo um país autossuficiente em produção de petróleo.
“Receita neoliberal de privatização da Petrobras combinada com o desmonte das políticas de segurança alimentar conduziram à dolarização dos preços do combustível e alimentos, ambos responsáveis por 2/3 da alta da inflação no Brasil, a 2° mais alta na comparação com outros países”, publicou em 26 de fevereiro do ano passado em seu perfil no Twitter.
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Seus posicionamentos também estão alinhados à agenda econômica da esquerda, o que refletiu nas comemorações após a sua nomeação entre figuras do PT, por exemplo. “Indicação de Marcio Pochmann pro IBGE é muito bem-vinda. Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa um Brasil mais justo. Em tempos de profunda desigualdade, é a escolha ideal para o cargo. Na torcida aqui”, escreveu Gleisi Hoffmann, presidente da legenda, em seu perfil no Twitter.
“Boa notícia. Marcio Pochmann confirmado na presidência do IBGE. Economista, especialista em desenvolvimento e políticas públicas, já presidiu o Ipea na gestão Dilma e a Fundação Perseu Abramo. Boa sorte, Márcio!”, escreveu o deputado federal Rogério Correia (PT-MG).
IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conta com quase quatro mil funcionários em todo o país. Sua atuação é de extrema importância, pois é responsável por realizar levantamentos que fundamentam políticas públicas e a alocação de recursos financeiros. Além disso, o IBGE é encarregado de conduzir pesquisas cruciais, como o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação; o Produto Interno Bruto (PIB), que avalia a atividade econômica; informações sobre o mercado de trabalho; e, periodicamente, o Censo, uma abrangente pesquisa que retrata a realidade demográfica e socioeconômica do país. Suas atividades e dados são fundamentais para o planejamento e a tomada de decisões em diversas esferas da sociedade brasileira.
Edição: Leandro Melito