A artista e diretora Cléia Plácido aguarda há vários meses o resultado de um edital da Lei Paulo Gustavo, que conta com recursos federais e é distribuída pelos governos locais. Ela foi uma das participantes do ato desta quarta-feira (20), mobilizado por trabalhadores e trabalhadoras da área da cultura que criticam a gestão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para o setor.
“Seria um recurso emergencial, e por conta de uma grande desorganização, falta de funcionários, esse dinheiro não chegou ainda à minha conta. Eu me sinto muito atingida. Tem falta de equipamentos, não consegue palco para os espetáculos. A gente fica sem ter onde ir, a não ser estar aqui”, disse ao Brasil de Fato.
Segundo os organizadores, foram cerca de 2 mil participantes na manifestação desta quarta. A professora de artes Lira Alli, dirigente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep) e integrante da Frente Única de Trabalhadores da Cultura (FUTC), destacou a presença de sindicatos, movimentos populares e trabalhadores para um ato que ela resumiu como “político, poético e simbólico”, por conta de uma série de apresentações organizadas pelos participantes.
“Eles sabem que a cultura é perigosa, a cultura faz o povo pensar. A partir disso eles têm construído uma política de absoluto desmonte, precarização, privatização, destruição”, disse.
Também participante da manifestação desta quarta, o produtor cultural Zé Renato afirma que os últimos anos foram de desmonte no setor, desde as passagens de João Doria (PSDB) e de Bruno Covas (morto em 2021) pela prefeitura, com um agravamento do processo no período mais grave da pandemia de covid-19, e durante a gestão atual.
“Há problemas no quadro no funcionalismo público, já que não se faz concurso há muito tempo. Cada vez temos menos funcionários públicos para fazerem os processos necessários para as coisas acontecerem. Isso causa acúmulos de trabalhos e atraso nos acontecimentos: editais, contratações, atividades culturais, pagamentos de professores”, listou.
Segundo Zé Renato, há um processo de aumento na burocracia para pagamento de verbas de custeio de atividades culturais organizadas por pequenos produtores, com exigência cada vez maiores de documentos. Ele afirma que há pessoas que prestaram serviços em agosto de 2023 e ainda não receberam os valores devidos.
“Não temos o mínimo de previsibilidade de trabalho, porque fica ao ‘Deus dará’ quando vai receber; a população fica sem atendimento porque os programas não acontecem ou são suspensos e a gente chega no limite e tem que fazer manifestações como essa”, afirmou.
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O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria Municipal de Cultura da capital paulista e apresentou as críticas feitas pelas pessoas entrevistadas, mas não recebeu retorno. Caso haja manifestação, este texto será alterado.
Trabalhadoras e trabalhadores da cultura protestam contra gestão de Ricardo Nunes / Pedro Stropasolas
Edição: Matheus Alves de Almeida
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