O estado de saúde do primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, foi estabilizado, mas o quadro permanece “muito grave”, um dia após ter sido atingido por vários tiros em um ataque por razões políticas.
“Ontem à noite, os médicos conseguiram estabilizar o estado do paciente. Hoje vão tomar mais medidas para a sua recuperação”, declarou ele aos jornalistas em frente ao hospital Roosevelt em Banska Bystrica.
Fico foi submetido a uma cirurgia por cinco horas e agora está em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Infelizmente, o estado de saúde ainda é muito grave porque os ferimentos são complexos”, acrescentou.
A diretora do hospital, Miriam Lapunikova, confirmou que duas equipes cirúrgicas operaram o premiê durante cinco horas. “O paciente tinha vários ferimentos de bala”, disse ela, pedindo à mídia que respeitasse a privacidade de Fico.
Enquanto isso, o presidente eleito da Eslováquia, Peter Pellegrini, apelou aos partidos políticos para “suspenderem” a campanha para as eleições europeias marcadas para 8 de junho, após a tentativa de assassinato do primeiro-ministro.
“Apelo a todos os partidos para que suspendam temporariamente ou reduzam significativamente as suas campanhas. A Eslováquia não precisa de mais confrontos e acusações mútuas neste momento”, apelou.
Fico está oscilando entre a vida e a morte depois de ser baleado por um homem de 71 anos enquanto estava em uma cidade no centro da Eslováquia. O agressor, identificado como Juraj Cintula, foi preso e acusado de homicídio premeditado por vingança. Ele está atualmente em uma cela policial na Agência Criminal Nacional em Nitra.
Segundo a mídia local, o aposentado disse ter atirado por “discordar das políticas do governo” da nação e afirmou estar orgulhoso do que fez.
O ataque ao primeiro-ministro populista e pró-Rússia, que regressou ao cargo desde outubro passado, suscitou uma onda de indignação e choque a nível internacional, desde o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu homólogo russo, Vladimir Putin, passando pelos líderes da UE, incluindo a premiê da Itália, Giorgia Meloni, que falam de “ataque à democracia”.
Perfil
Robert Fico, nascido em 1964, abandonou todas as nuances pró-europeias do início da sua carreira política para abraçar, ao longo do tempo, posições cada vez mais nacionalistas.
Ele é considerado pró-Rússia, contra as armas em Kiev e a entrada da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), duro com os migrantes, fechado a quaisquer concessões em relação aos direitos LGBTQIA+ e ao casamento homoafetivo.
Aproximar-se mais de Budapeste do que de Bruxelas e tornar-se uma “pedra no sapato” da Europa. Foi juntamente com Viktor Orbán, que Fico tornou-se um obstáculo potencial para decisões maioritárias dos 27 países-membros do bloco.
Na sua última campanha eleitoral, atacou várias vezes a UE pelo seu apoio a Kiev, mas também pelas sanções impostas a Moscou.
Ele também sempre se opôs à adesão da Ucrânia à Otan, reiterando a sua posição há apenas alguns meses, quando anunciou que Bratislava (que na primeira fase da guerra contribuiu com menos de 1% para o esforço europeu), já não iria fornecer armas para Volodymyr Zelensky.
Fico está de volta ao comando do país há menos de um ano, desde que recebeu o quarto mandato em outubro de 2023 com seu partido populista de esquerda, o Smer DS, que derrotou a concorrência dos progressistas ao ganhar 23% nas eleições, à frente dos liberais-progressistas (PS) pró-UE.
Depois de uma estreia na política com uma matriz fortemente pró-europeia (com ele a Eslováquia entrou no euro), Fico – nascido em setembro de 1964 na então Tchecoslováquia – ao longo da sua carreira política desviou-se gradualmente para posições cada vez mais populistas.
O seu partido na Câmara Europeia situa-se entre os Socialistas e os Democratas, mas as suas posições, tal como as relativas aos migrantes, são mais semelhantes às da direita, tanto que foi expulso dos Socialistas Europeus.