Por Antonio Temóteo e Eduardo Laguna
Ao defender mudanças no regime de metas de inflação, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, criticou, em entrevista à CNN, a fixação de objetivos anuais para a alta dos preços Dando como exemplo os modelos americano e europeu, o ministro manifestou preferência por metas contínuas, a serem atingidas ao longo do tempo.
“Eu penso que há aperfeiçoamento a ser feito. Talvez a oportunidade seja agora”, afirmou Haddad em entrevista ao empresário Abilio Diniz, no programa Caminhos. Junto com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, Haddad tem assento no Conselho Monetário Nacional (CMN), onde são definidas as metas de inflação. Para o ano que vem, a meta central a ser perseguida é de 3%, porém o governo pressiona por mudanças no regime, como forma de abrir espaço para o corte de juros.
Haddad considerou as metas anuais uma especificidade “que não faz sentido”. Apenas Brasil e Turquia, observou, adotam o modelo “Não faz sentido discutir no Conselho Monetário qual é a meta de inflação ano a ano”, assinalou.
“O que o mundo que adotou meta de inflação fez? Você analisa a economia do país, define um objetivo, não fixa o ano-calendário. Alguns chamam de meta contínua. Ou seja, se é 3%, persegue-se 3%”, acrescentou o ministro.
Haddad lembrou que, mesmo com a inflação a 8,5%, o Banco Central Europeu (BCE) calibra os juros para que o objetivo de baixar a alta dos preços para 2% seja alcançado respeitando uma série de variáveis. “Não para abrir mão de combater a inflação, que é a razão de ser do banco central, mas a trajetória, como ele desenha a trajetória”, disse Haddad.
Desafio para as Américas
Fernando Haddad afirmou na entrevista, gravada na tarde desta quinta-feira, 18, e exibida à noite, que o deslocamento do eixo de produção para a Ásia traz desafios para as Américas. Segundo ele, esse movimento “inspira cuidado” e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ajudar no diálogo para reforçar o papel da América do Sul nesse processo.
“Eu penso que a América como um todo está em situação que inspira cuidado, inclusive os Estados Unidos. O eixo de produção está se deslocando para a Ásia. A liderança do Lula pode ser fundamental para reorganizar a América do Sul. Temos de considerar que Lula é um ativo do ponto de vista das relações internacionais”, disse.
Haddad ainda afirmou que a mudança na presidência do Mercosul, que passa a ser do Brasil, e da União Europeia, que será da Espanha, pode ajudar no acordo entre os dois blocos comerciais. Segundo ele, o Brasil deve se esforçar para convencer a Argentina sobre os benefícios do acordo e a Espanha deve sensibilizar a França.