Faleceu nesta sexta-feira (6) a militante feminista Nalu Faria, uma das mais importantes figuras da militância nacional, coordenadora da Marcha Mundial das Mulheres e integrantes da Sempreviva Organização Feminista (SOF). Na luta popular desde a década de 1980, ela influenciou a formação de centenas de companheiras e teve papel essencial na articulação pelos direitos das mulheres no Brasil.
Psicóloga de formação, Nalu Faria entrou para a militância estudantil no fim da década de 1970, quando estava na graduação, em Uberaba (MG). O primeiro contato com o movimento aconteceu por meio da pauta do passe livre para estudantes.
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Em entrevista para a Revista Estudos Feministas, concedida em 2012 – uma das raras ocasiões em que falou da própria trajetória – ela contou que, em 1980, participou da primeira celebração do 8 de março na região. A partir daí, o feminismo passou a fazer parte da vida da militante.
Nalu Faria se mudou para São Paulo em 1983. Participou do grupo Democracia Socialista (DS), tendência interna do Partido dos Trabalhadores (PT) em atuação até os dias de hoje. Na conversa de 2012 com as pesquisadoras Carmen Susana Tornquist e Soraya Resende Fleischer, ela falou sobre o período.
“Passei a participar de um debate mais estruturado sobre o feminismo. Desenvolvi minha militância no PT, no trabalho de mulheres nos sindicatos e na Central Única dos Trabalhadores (CUT), e, a partir de 1986, passei a atuar na Sempreviva Organização Feminista (SOF) e, portanto, com muita presença no movimento popular.”
Essa atuação esteve muito focada na formação e no questionamento crítico, inclusive dentro do próprio movimento, “ao longo dos anos 1990 na SOF, questionamos muito sobre qual deveria ser uma estratégia de construção do movimento de mulheres para incorporar os vários setores e também para ter uma agenda mais global que desse conta de pensar na totalidade da problemática das mulheres”, disse ela à revista.
Em artigo publicado no Brasil de Fato em março passado, Nalu Faria ressaltou a grandeza das celebrações mundiais do Dia Internacional das Mulheres em 8 de março e a invisibilidade do trabalho cotidiano e revolucionário das mulheres.
“Essa grandeza nos conduz a olhar de forma muito aguda para a realidade vivida por nós, mulheres. De um lado, salta aos olhos como nós, mulheres, sustentamos a vida com o trabalho interminável, marcado por múltiplos afazeres simultâneos, precariedade, racismo, controles e imposições sem fim. Assim, as mulheres garantem o cuidado da vida na casa e na sociedade em geral, e atuam também na resistência aos ataques contra os territórios e às tentativas de destruição dos modos de vida. Todo esse trabalho tem uma dimensão invisível: as mulheres estão garantindo conexões entre as pessoas, os tempos, as gerações, os conhecimentos, os afetos.”
Assista à entrevista que Nalu Faria deu ao Brasil de Fato em 2017:
Nalu Faria estava em tratamento por insuficiência cardíaca e havia sido internada há dois meses na cidade de São Paulo. Relatos de amigas, companheiras de luta e da família contam que ela mantinha o ânimo a garra e a determinação de sempre. Ela faleceu aos 64 anos.