Resultado da luta do Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, o Memorial da Resistência está completando 15 anos. Localizado no centro de São Paulo, o espaço foi sede de torturas e interrogatórios durante a ditadura civil-militar de 1964 a 1985 e hoje é espaço de defesa da democracia no Brasil.
É o que conta Maurice Politi, que ficou preso por 4 anos quando militava na Ação Libertadora Nacional. Ele foi pego pela Polícia Militar em uma emboscada e passou por 9 diferentes prisões e 36 celas no Estado de São Paulo.
“Eu fui preso nesse local quando eu tinha 21 anos de idade, em plena época da ditadura militar, no ano de 1970, quando eu fui levado, inicialmente, à operação Bandeirantes”, recorda Politi, que também ressalta que a antiga carceragem acabou abandonada e permaneceu com o título de “Memorial da Liberdade”.
“E a gente, claro, não concordava com isso. Em 2005 a gente começa uma luta, como entidade da sociedade civil. Primeiro, para mudar o nome, porque se tinha uma coisa que não tinha nesse lugar era liberdade, então tinha que mudar. A gente propôs que fosse Memorial da Resistência para, justamente, homenagear os resistentes”, explica
O complexo carcerário consistia em quatro celas, um corredor principal e outro para banho de sol. Foi restaurado e hoje é uma exposição permanente. Em cada área, há painéis e materiais audiovisuais que vão dos relatos do dia-a-dia dentro da prisão ao pós-ditadura.
“O pessoal dormia em cima desses colchões e esse banheiro é o único que foi reconstituído tal como era o banheiro da época. Não tinha ducha, tinha um cano. Era onde saía água para tomar banho e a privada era o que chamamos de privada turca”.
Nas paredes é possível ler as inscrições e nomes riscados com o que se tinha à mão. Hoje, os rabiscos não são os originais, mas continuam autorais.
“Quando eles converteram esse espaço no Memorial da Liberdade, apagaram todas as inscrições. Então nós viemos e fizemos com o mesmo pregos, com grampo de cabelo de mulher. O meu nome, que se pode ver ali, está datado da época em que fiquei preso, abril de 1970. E tem nomes de várias pessoas, famílias inteiras. Tem o nome da Dilma Rousseff também, que ficou presa aqui”, revela.
Uma enorme linha do tempo informa aos visitantes a cronologia sobre a política brasileira, de 1889, com a Proclamação da República, até 2008, ano anterior à abertura do Memorial.
“Esse local se tornou um Memorial da Resistência e hoje ele é para nós uma vitória. Ele recebe 80 mil pessoas por ano. Se você faz a conta e divide em 12 meses, com 22 dias, você tem, quase todos os dias, cerca de 200 pessoas visitando este local”, calcula Politi.
“Para nós é uma vitória termos conseguido. Infelizmente é o único espaço no Brasil que mostra, assim, tão abertamente o que era esse período. Infelizmente só temos um em São Paulo, mas gostaríamos de ter outros, não só em São Paulo como em outros estados”, acrescenta o ex-preso político.
Para além das memórias da ditadura civil-militar, o Memorial da Resistência a luta por direitos humanos a partir da atuação de movimentos populares contemporâneos.
Há ainda outras duas exposições: “Resistências na PUC-SP”, que rememora a atuação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo diante da violência e autoritarismo do período, que vai até o dia 31 de março de 2025; e “Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política”, que fica até o dia 28 de julho.
Edição: Rodrigo Gomes