O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, enviou mensagens em que demonstrava saber da existência de provas sobre a apropriação ilegal de joias recebidas de presente pela Presidência da República.
Diálogos de um aplicativo de mensagens, obtidos e divulgados pela colunista Juliana Dal Piva, do site de notícias Uol, mostram Cid e o advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, conversando logo após as primeiras denúncias sobre o conjunto de colar, anel, relógio e brincos de diamante recebidos da Arábia Saudita.
“O pior é que está tudo documentado”, disse Cid em mensagem enviada no último mês de março. Ele se referia às denúncias publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, que revelavam um esquema para tentar entrar ilegalmente com as joias no Brasil.
A denúncia mostra que as peças foram encontradas pela Receita Federal na mochila de Marcos André dos Santos Soeiro, então assessor do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Para trazer os itens ao país sem pagar imposto, a gestão de Bolsonaro precisaria declarar o conjunto como presente oficial de Estado, o que não foi feito.
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Além de não contabilizar as joias ao acervo nacional, a gestão de Bolsonaro tentou passar pela fiscalização sem nenhum tipo de declaração e as peças foram apreendidas. Até a saída de Bolsonaro da presidência, algumas tentativas de reaver os objetos foram feitas.
A última delas, em dezembro de 2022, foi flagrada por câmeras e mostra um ex-funcionário do governo tentando convencer um servidor da Receita a entregar as peças. O servidor não cedeu à tentativa de tráfico de influência.
No mesmo dia em que o caso veio a público, Mauro Cid e Fábio Wajngarten trocaram diversas mensagens. “Eu nunca vi tanta gente ignorante na minha vida”, escreveu Wajngarten mas sem específicar de quem está falando.
Após ser informado que o caso estava documentado, ele pediu explicações a Mauro Cid. Os textos enviados em resposta, no entanto, foram apagados. Entre as mensagens que não foram deletadas, Mauro Cid afirmou não saber em que data exata o ex-presidente tomou conhecimento da existência do conjunto, mas citou o período do fim do ano passado.
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“Não sei dizer a data. Tanto que, em 2022, ninguém tocou nisso aí. Por isso, que entrou para leilão porque ficou mais de um ano”, disse ele ao se referir a um leilão da Receita para itens confiscados por sonegação de impostos.
O ex-ajudante de ordens também recebeu perguntas de Wajngarten sobre a localização de um segundo conjunto de joias, que entrou ilegalmente no Brasil. Cid deu respostas inconclusivas: “deve estar em algum depósito”, disse ele.
Dias depois, o ex-secretário instruiu Mauro Cid a disponibilizar as peças para o Tribunal de Contas da União. Segundo a reportagem do Uol, em nenhum momento o então ajudante de ordens mencionou que as peças foram levadas para os Estados Unidos em uma viagem de Jair Bolsonaro e que o próprio Mauro Cid tentou vender as joias. A tentativa de transação ilegal foi descoberta pela PF.
Ainda de acordo com o Uol, Cid e Wajngarten foram procurados, mas não comentaram o assunto.
Edição: Raquel Setz