O Oriente Médio está mudando, o Brasil entende a importância da região e não pretende ficar de fora, afirma Mohammed Nadir, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).Neste sábado (15), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega aos Emirados Árabes Unidos (EAU), onde será recebido pelo seu homólogo local, Mohammed bin Zayed Al Nahyan.
Na agenda, estão previstos acordos nas áreas comerciais e ambientais. O Brasil é um importante fornecedor de alimentos para o país árabe e o Oriente Médio como um todo. Em 2022, foram vendidos US$ 950 milhões em carne de aves para os EAU, além de US$ 443 milhões em ouro e outros US$ 443 em açúcar e melaços. Nas importações, o principal destaque é a compra pelo Brasil de óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos, que somaram US$ 2,2 bilhões no ano passado.
Para além da visita oficial deste final de semana, os EAU se tornaram um personagem frequente nas páginas policiais da imprensa brasileira. Além de joias recebidas da Arábia Saudita, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ganhou armas de presente durante agenda em 2021. Por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), Bolsonaro precisou devolver os itens.
“Temos que esperar muita coisa [da visita de Lula aos EAU]. Em primeiro lugar, ela é simbólica porque vai terminar uma viagem à China, como todo mundo aguardava, para parar nos Emirados Árabes Unidos. E fazer essa parada quer dizer, mesmo que não tenha sido programada antes, digamos com mais destaque, parar ali é sinal de que o Brasil quer marcar presença no Oriente Médio”, diz Nadir ao Brasil de Fato.
O pesquisador da UFABC destaca que o Brasil busca investimentos internacionais e que os EAU contam com um fundo soberano multibilionário.
Outro ponto do encontro de Lula com o presidente dos Emirados Árabes deverá ser a agenda ambiental, já que o país do Golfo Pérsico sediará a próxima COP, o mais importante evento da política ambiental internacional. O Brasil busca apoio para receber a conferência em Manaus, em 2025 – Paraguai e China já expressaram apoio ao plano brasileiro.
Nadir também ressalta que a viagem de Lula acontece após um evento significativo na política do Oriente Médio: a aproximação entre Irã e Arábia Saudita mediada pela China. Após sete anos de rompimento, Pequim mediou um acordo para a restauração das relações diplomáticas entre Irã e Arábia Saudita. Para o professor da UFABC, o movimento chinês foi “genial” e demonstra uma reformulação da política da região.
“Até agora, a China era um ator econômico, era um país que nós pensávamos que apenas tratava de negócios e mais nada. Ou seja, economia, economia e economia. Agora não, a China mudou de aspecto, de atitude e entrou nesse mundo como estabilizadora das relações internacionais pela melhor porta: por uma grande resolução.”
É nessa região em transformação que o Brasil procura marcar presença, defende o pesquisador. Para ele, as autoridades brasileiras entendem a importância do Oriente Médio: “Há uma grande consciência dentro do Itamaraty sobre a importância do Oriente Médio. Basta dizer que entre 2019 e 2022 houve mais de 150 missões das autoridades brasileiras para a Arábia Saudita. Isso mostra a dimensão e a importância que o Itamaraty dá para a região do Oriente Médio e os países do Golfo [Pérsico]”.
Edição: Patrícia de Matos