Por Fábio Hecico
Parece filme repetitivo. Mas é a triste realidade de Vítor Pereira no Flamengo. Em pouco mais de dois meses no comando do clube carioca, o treinador português acumulou seu quarto troféu perdido ao levar a virada, por 2 a 1, do Fluminense, em jogo quente e cheio de confusões no Maracanã, deixando escapar a Taça Guanabara. Bastava um empate à equipe. Irritada, a torcida pediu a saída do comandante e o chamou, em coro, de “burro”, quando substituiu Gabigol e Arrascaeta.
Com postura ofensiva, sobretudo na etapa final, o Fluminense mereceu a virada e fecha o primeiro turno com a melhor campanha e o 12º troféu da Taça Guanabara ao somar 25 pontos diante de 23 do time rubro-negro.
Jovem pedido por Fernando Diniz, com o qual trabalhou no Santos, Gabriel Pirani foi o herói do Fluminense no Maracanã ao marcar o gol da virada, aos 39 minutos. Cano havia empatado em pintura coletiva no começo da etapa final após Everton Cebolinha abrir o placar na primeira etapa. Fábio ainda fez grande defesa no fim para garantir a festa tricolor.
Depois de ter perdido os títulos do Mundial de Clubes (caiu na semifinal), a Recopa Sul-Americana diante do Independiente del Valle e a Supercopa do Brasil para o Palmeiras, evitar vexame na Taça Guanabara era obrigação de Vítor Pereira e, mais uma vez, ele amargou uma frustração no Brasil. Além de perder as três principais disputas com o clube e agora a Taça Guanabara, o comandante português ainda havia caído na decisão da Copa do Brasil com o Corinthians.
Sob enorme pressão, Vítor Pereira resolveu mexer bastante no Flamengo. Sem David Luiz e Thiago Maia, machucados, o treinador ainda surpreendeu ao deixar Santos, Varela, Fabrício Bruno, Ayrton Lucas, Vidal, Everton Ribeiro e Pedro no banco de reservas. O esquema com três zagueiros já era previsto, mas a entrada de Pablo foi outro novidade. Para explicar sete titulares barrados, o português justificou que eram os jogadores mais disponíveis para fazer o que ele queria.
Necessitando da vitória para erguer o troféu da Taça Guanabara, o Fluminense de Fernando Diniz estava com sua formação ideal, com os mesmos titulares escalados nas duas últimas rodadas do estadual – 3 a 0 na Portuguesa e 5 a 0 no Bangu.
A bola nem bem rolou no Maracanã e Gabigol já recebeu amarelo. Com menos de um minuto, o atacante – foi xingado por torcedores em protesto na terça-feira – deu um pontapé em André e ainda chutou a bola com raiva no volante tricolor. O Flamengo estava visivelmente nervoso. Aos 4, Matheus França entrou duro no goleiro Fábio.
Em jogo quente, as emoções demoraram a surgir. E no primeiro grande lance, surgiu o gol. Everton Cebolinha fez fila para cima da marcação e bateu no canto de Fábio. O atacante beijou o escudo do Flamengo e “pediu os gritos” da torcida.
O Fluminense respondeu somente aos 25 minutos. Cano parou em defesa do goleiro. Após Arrascaeta desperdiçar boa chance, Gabigol ampliou. Matheus França, ao roubar a bola de André, porém, fez falta ao agarrar o volante e após análise no VAR o lance acabou impugnado. Keno ainda ficou no quase antes do intervalo.
Mais calmo após discussão ríspida com Vítor Pereira, Fernando Diniz optou por mudanças no descanso ao lançar outros dois meias, Gabriel Pirani e Lima, colocando o Fluminense ainda mais para a frente. Sacrificou o zagueiro David Braz. André foi recuado, com somente Martinelli marcando no meio.
A coragem do treinador foi premiada com somente sete minutos, em grande jogada coletiva. Martinelli lançou Pirani, que de primeira, achou Arias na área. O colombiano não foi fominha e também em toque rápido serviu o artilheiro Cano: 1 a 1. Bateu raspando logo depois, quase virando o marcador. Mas estava impedido.
Aos 20 minutos, Vítor Pereira tirou Gabigol e Arrascaeta, recebeu enorme vaia e ainda foi chamado, em coro, de “burro.” Trocou também o jovem Igor Jesus por Vidal. Sem sintonia com a torcida, colocou Everton Ribeiro quando a torcida pediu Matheus Gonçalves. Mas como o meia tem prestígio com as arquibancadas, desta vez a troca passou sem cobranças.
Totalmente desorganizado em campo, o Flamengo não conseguia mais passar do meio-campo e sofria enorme pressão do Fluminense, que envolvia a marcação com passes rápidos. Vidal, em saída errada, quase entregou, mas se recuperou a tempo com carrinho perigoso, por trás.
Em cobrança de falta de Arias aos 39 minutos, Cano errou a finalização e a bola sobrou para Gabriel Pirani virar o placar. O jovem, ex-Santos e um pedido de Diniz, vibrou muito. O lance ainda foi para o VAR por possível impedimento. Mas o gol acabou validado.
Vítor Pereira, revoltado com provocações, foi ao banco do Fluminense para brigar com Diniz. Mas acabou contido. Logo depois, Gerson derrubou e chutou Giovanni, no chão, e o clima esquentou. O volante levou somente o amarelo, enquanto Felipe Melo acabou expulso e chamou o árbitro Grazianni Maciel Rocha de “mau caráter”. Diniz reclamava da pior arbitragem” vista na competição.
Uma falta na entrada da área no minuto final dos sete dos acréscimos deixou os tricolores apreensivos. Everton Ribeiro bateu colocado e Fábio voou para fazer a defesa e garantir a festa. O atual campeão carioca fecha o turno no topo e vai com moral para as semifinais após o quarto triunfo consecutivo.
FICHA TÉCNICA
FLAMENGO 1 X 2 FLUMINENSE
FLAMENGO – Matheus Cunha; Rodrigo Caio, Pablo e Léo Pereira (Fabrício Bruno); Matheuzinho, Gérson, Matheus França (Everton Ribeiro), Arrascaeta (Ayrton Lucas) e Igor Jesus (Vidal); Everton Cebolinha e Gabigol (Mateusão). Técnico: Vítor Pereira.
FLUMINENSE – Fábio; Samuel Xavier, Nino, David Braz (Gabriel Pirani) e Alexsander; André, Martinelli (Alan) e Ganso (Giovanni); Keno (Lima), Arias e Cano (Felipe Melo). Técnico: Fernando Diniz.
GOLS – Everton Cebolinha, aos 18 minutos do primeiro tempo; Cano, aos 7, e Gabriel Pirani, aos 39 do segundo.
ÁRBITRO – Grazianni Maciel Rocha.
CARTÕES AMARELOS – Gabigol, Gerson, Matheus Cunha, Pablo e Vítor Pereira (Flamengo); Arias e Fernando Diniz (Fluminense).
CARTÃO VERMELHO – Felipe Melo (Fluminense).
RENDA – Não disponível.
PÚBLICO – 56.409 presentes.
LOCAL – Maracanã.