“Por alguma profunda razão, as canções feitas pelo povo se tornam perigosas para o poder autoritário”. É assim que a cantora chilena Cecília Concha Laborde relembra as razões pelas quais o cantor e militante Víctor Jara foi morto pela ditadura chilena em 1973, apenas alguns dias após o golpe militar de Augusto Pinochet, que ficou no poder até 1990. Cecília é uma das artistas que se apresenta neste sábado (30) no Galpão do Armazém do Campo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na 6ª edição brasileira do evento Mil Guitarras para Víctor Jara.
O cantor foi brutalmente espancado e assassinado, cinco dias após ser preso em 12 de setembro. O corpo foi encontrado em um matagal, com vários ossos quebrados e 44 marcas de bala, descreve o projeto Memórias da Ditadura, do Instituto Vladimir Herzog. A ditadura chilena foi uma das mais sangrentas no continente, com cerca de 40 mil mortos. “São as canções que recuperam e que valorizam a real identidade dos nossos povos e isso as torna perigosas, porque o que busca uma ditadura é adormecer o povo”, destaca Cecília ao homenagear o conterrâneo.
Advertisement
Ela também cita Violeta Parra, Dércio Marques, Alí Primera, como cantores representantes da Nova Canção, movimento musical que surgiu na década de 1960, no contexto de governos autoritários, e que fazia denúncia social, incorporando elementos do folclore latino-americano.
O evento em São Paulo é organizado pela rede Dandô, Circuito de Música Dércio Marques, que reúne músicos de diferentes lugares do Brasil e promove encontros, trocas e reflexões por meio da música e outras expressões artísticas. Katya Teixeira, integrante da rede e organizadora da homenagem a Víctor Jara, destaca o compromisso em comunicar o que se passa no “ambiente social do nosso tempo”. “Com a música, a mensagem chega mais fácil. É uma ferramenta muito potente, a gente entende ainda mais no momento que a gente sente.”
Cecília também destaca a importância de que mensagens de resistência e luta permaneçam atuais, especialmente entre os mais jovens. “Apesar desses 50 anos, são ideias que seguem vigentes, sobretudo pelo recrudescimento de ideias fascistas, discriminatórias. Não podemos dar como dados valores como direitos humanos, diversidade, liberdade, é uma luta permanente”, defende a cantora chilena.