O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o nome de Nísia Trindade como ministra da Saúde de seu governo. A fala em apoio à socióloga ocorreu nesta quarta-feira (5) – último dia da 17ª Conferência Nacional da Saúde, que acontece em Brasília (DF).
Em meio a tensões entre o governo com o chamado centrão, a ministra da Saúde foi aclamada diversas vezes pelos participantes no encerramento da Conferência. O grupo comandado por Arthur Lira (PP-AL) quer substituir Nísia Trindade, que é ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) por um nome indicado por parlamentares. Lula não se esquivou do assunto.
“A semana passada eu liguei para Nísia. Eu tinha visto uma nota no jornal de que tinha alguém reivindicando o Ministério da Saúde. Eu disse: ‘Nísia, vá dormir e acorde tranquila, porque o Ministério da Saúde é do Lula. Foi escolhido por mim e ficará até quando eu quiser’. Eu tive muita sorte com meus ministros da Saúde, mas precisou uma mulher para fazer mais e fazer melhor”, disse.
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Antes de Lula, outras presentes defenderam o nome de Nísia. “É a nossa ministra, a ministra do SUS. “, declarou Fernando Pigatto, presidente do Conselho Nacional de Saúde, ao abrir os trabalhos da Conferência. “Além de ser uma gestora extraordinária, é um ser humano maravilhoso que sabe sentir a dor do povo”, emendou Márcio Macedo, ministro-chefe da Secretária-Geral da Presidência da República.
Nísia, ao falar na Conferência, afirmou que o piso da enfermagem deverá ser garantido no setor público enquanto o Supremo não termina sua discussão sobre o tema, que envolve também profissionais que atuam no âmbito privado: “O governo federal, através do Ministério da Saúde e em ação conjunto, trabalha para a implementação do piso da enfermagem”.
A ministra ainda criticou o governo Jair Bolsonaro (PL) em seu tratamento dado ao SUS e aos profissionais que nele atuam, reforçando o papel das instâncias de participação como a Conferência para as políticas públicas de saúde.
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“Queria agradecer a cada uma e cada um que construíram essa Conferência. É a força do SUS que está aqui. É com esta força que nós vamos trabalhar. A agenda construída aqui é a agenda central do SUS, como determina nossa lei. Hoje já é outro dia. É o dia da afirmação da democracia, da afirmação da paz contra o ódio. Viva o SUS! Viva a democracia!”.
Defesa do SUS
Ao discursar aos delegados e delegadas da Conferência, Lula defendeu o Sistema Único de Saúde (SUS) ao lembrar a importância de seus profissionais no combate à pandemia do coronavírus a despeito das omissões do governo passado.
“As Conferências têm determinado as melhorias na qualidade da saúde.Nesse governo, vocês podem reclamar, discordar. As conquistas que temos são obra e trabalho de vocês que participam. Vocês sabem quantas vezes o SUS foi ofendido. Depois da covid-19 não tem um brasileiro ou uma brasileira de boa-fé que negue que graças ao SUS nós não chegamos a um milhão de mortos”, iniciou o presidente.
Lula então fez uma referência especial à atuação de profissionais de enfermagem, categoria que se vê em meio a uma disputa para a implementação de seu piso salarial nacional e que envolve o Supremo Tribunal Federal (STF). “Quem cuida da gente é o pessoal da enfermagem. Esse trabalho não pode ser considerado menor. Esse pessoal tem que ser valorizado”, afirmou.
17ª Edição
O evento foi aberto oficialmente no início da noite do último domingo (2), com participação da ministra da Saúde, Nísia Trindade, que recebeu apoio de boa parte dos participantes em meio à disputa política de bastidores que poderia afastá-la do cargo. “Somos diversos, mas estamos unidos na luta pelo SUS, na luta pela democracia. Essa força coletiva de defesa da democracia que une o nosso Conselho Nacional de Saúde, que resistiu durante os anos mais difíceis da nossa história recente”, resumiu a ministra no evento de abertura.
O encontro é um passo essencial para elaboração e aprovação de propostas para o Plano Nacional de Saúde e o Plano Plurianual 2024-2027.
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No modelo atual, a Conferência Nacional é a conclusão de uma série de etapas regionais. As etapas preparatórias envolveram mais de 2 milhões de participantes em todo o Brasil, o dobro da edição anterior. Além disso, pela primeira vez, foram realizadas Conferências Livres, organizadas por segmentos da sociedade civil. Mais de 4 mil pessoas foram eleitas delegadas para discutir sobre 31 diretrizes e 329 propostas elaboradas nas conferências prévias.
“Não é um evento, é o final de um processo que culmina na etapa nacional. Uma construção que envolveu mais de 2 milhões de pessoas no Brasil. Quem chega na conferência nacional são pessoas eleitas delegadas nos diversos espaços de possibilidades de opinarem e debaterem propostas. E não são só pessoas, elas vem representar propostas e diretrizes que foram aprovadas nas conferências”, afirmou Pigatto.
Realizadas desde 1941, as Conferências Nacionais de Saúde são espaços de participação popular e diálogo com a sociedade. A oitava edição, em 1986, foi um dos momentos mais importantes para a elaboração e criação do SUS. Atualmente, o encontro é realizado a cada quatro anos.
Edição: Leandro Melito e Rodrigo Durão Coelho