Por Antonio Perez
Após uma manhã morna e de oscilações modestas, o dólar se firmou em alta no início da tarde, sob impacto de discurso duro do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e encerrou a sessão desta terça-feira, 7, cotado a R$ 5,1927, avanço de 0,44% Apesar da alta hoje, a divisa ainda acumula baixa de 0,62% no mês.
A depreciação do real se deu em meio a uma onda de valorização da moeda americana no exterior. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – atingiu o maior nível em dois meses, na casa dos 105,605 pontos, com tombo de mais de 1% do euro. As moedas emergentes e de países exportadores de commodities caíram em bloco. O real, que costuma apanhar em episódios de aversão ao risco, desta vez sofreu bem menos que seus pares, como peso chileno, mexicano e rand sul-africano.
Como ontem, o pregão foi marcado por oscilações estreitas entre mínima (R$ 5,1553) e máxima (R$ 5,2058) e liquidez reduzida. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para abril movimentou menos de US$ 10 bilhões. Dados da Warren Rena mostram que ontem os investidores estrangeiros reduziram posição comprada em dólar futuro (que ganha com alta da moeda americana) em 22,3 mil contratos (US$ 1,1 bilhão).
Operadores veem o dólar operando em uma faixa, grosso modo, entre R$ 5,05 e R$ 5,25 no curto prazo. Quando a divisa esboça superar R$ 5,20, há entrada de exportadores e realização de lucros no mercado futuro. Baixas mais expressivas da moeda, por sua vez, levam à recomposição de posições defensivas.
“Estamos vendo o real rodar em uma banda mais estreita, com variações que não chegam a 20 centavos. Mercado parece sem apetite para uma aposta forte para nenhum dos dois lados e oscila nessa faixa, muito sensível ao noticiário político”, afirma o economista Bruno Mori, sócio-fundador da consultoria Sarfin, para quem a depreciação menor do real hoje pode estar ligada ao nível mais elevada dos juros no Brasil em relação a pares.
Por ora, investidores estariam refreando apostas mais contundentes à espera do anúncio do novo arcabouço fiscal, prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para antes do encontro de Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 21 e 22. A curva de juros futuros embute cortes da taxa Selic, hoje em 13,75%, a partir de junho. Haddad se encontrou hoje com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para tratar de “assuntos de interesse do BC e do Ministério da Fazenda”, segundo informação do ministério. Não houve declarações à imprensa após a reunião.
“Hoje, o real apresentou desempenho melhor que seus pares. É um indicativo de que os ativos aqui estão relativamente baratos”, afirma o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, ressaltando, contudo, que a combinação de Fed com discurso mais duro e “probabilidade não desprezível” de o Copom iniciar corte de juros nos próximos meses aponta para um real mais fraco.
No Senado americano, Powell deixou aberta a porta para uma aceleração do ritmo de alta da taxa básica no encontro de política monetária do Fed neste mês (21 e 22). Mais: o nível terminal dos Fed Funds pode ficar acima do “previsto anteriormente”, o que significa taxa mais perto de 5,50%.
A fala do presidente do BC americano vem após uma sequência de indicadores mais fortes da economia americana, em especial do mercado de trabalho, e sinais de arrefecimento mais lento da inflação. Segundo Powell, “as pressões inflacionárias estão mais altas do que o esperado no momento de nossa reunião anterior”, em meio “há pouco sinais” de desinflação no setor de serviços.
A reação do mercado foi imediata. Ferramenta da CME Group mostra que, após as declarações de Powell, as chances de o Fed apertar o passo e elevar os Fed Funds em 50 pontos-base, após alta de 25 pontos em fevereiro, se tornaram majoritárias, passando da casa de 29% para o nível de 54%.