Por Antonio Perez
No retorno dos negócios após o feriado de 1º de maio, o dólar à vista voltou se fixar acima de R$ 5,00 no mercado local de câmbio, em sessão marcada por perdas generalizadas de divisas emergentes e de países exportadores de commodities. O real, que apresentou os maiores ganhos entre seus pares em no mês passado, nesta terça, 2, amargou o pior desempenho no grupo das moedas globais mais relevantes.
Com oscilação de pouco mais de cinco centavos entre mínima (R$ 4,9932) e máxima (R$ 5,0533), a moeda fechou cotada a R$ 5,0467, em alta de 1,19%, devolvendo no primeiro pregão do mês boa parte das perdas acumuladas em abril (-1,60%). Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve bom giro, acima de US$ 13 bilhões.
Operadores atribuíram a arrancada do dólar por aqui, sobretudo, à onda de aversão ao risco no exterior. Preocupações em relação à saúde do sistema financeiro americano, mesmo após a concretização da compra do First Republic pelo JPMorgan, atiçam os temores de recessão nos Estados Unidos, na véspera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o BC americano), que deve trazer nova alta da taxa de juros em 25 pontos-base. Os mercados acionários mundo afora sofreram, as taxas dos Treasuries recuaram e as cotações internacionais do petróleo perderam mais de 5%, com o contrato tipo Brent para julho encerrando com baixa de 5,03%, cotado a US$ 75,32 o barril.
“A probabilidade segue elevada de que mais bancos regionais tenham problemas de liquidez ou quebrem de fato com nova alta dos juros pelo Fed”, afirma o economista-chefe da J.F Trust, Eduardo Velho, para quem o dólar sobe em razão do aumento da aversão ao risco global e dos problemas fiscais domésticos, com o governo dando prioridade a aumento da tributação para cumprir as metas propostas no novo arcabouço fiscal.
De fato, analistas creditam parte da depreciação do real hoje ao desconforto com as ações do governo para elevar a arrecadação. Medida Provisória publicada no domingo para tratar da correção da tabela do Imposto de Renda trouxe também a previsão de taxação de rendimentos de aplicações de brasileiros no exterior, que compensariam justamente as perdas com o IR. A equipe econômica estima que a nova taxação tenha potencial de arrecadar R$ 3,25 bilhões em 2023. As estimativas são de R$ 3,59 bilhões em 2024 e R$ 6,75 bilhões em 2025.
“A percepção é a de que o governo vai fazer ajuste nas contas públicas via aumento de arrecadação e sem mexer na questão dos gastos. Isso acaba impactando na percepção de risco e na nossa moeda”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Além da surpresa com a MP, investidores digeriram novos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à gestão da política monetária durante as comemorações do Dia do Trabalhador. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao ser questionado hoje se seria possível o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciar amanhã à noite uma redução da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, disse apenas “que dá, dá”.
É consenso entre analistas de que o BC vai optar por manter a taxa Selic inalterada. As dúvidas recaem sobre o teor e o tom do comunicado do Copom. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez recentemente elogios aos esforços do ministério da Fazenda na área fiscal, embora tenha repetido que não existe relação mecânica entre a aprovação do novo arcabouço e a trajetória da taxa de juros.