As enchentes que afetam o Rio Grande do Sul fazem parte de um processo de colapso socioambiental que deve se intensificar nos próximos anos. A avaliação é de Luiz Marques, pesquisador da Unicamp e autor de O Decênio Decisivo (Elefante, 2023).
“O que está acontecendo no Rio Grande do Sul é um fenômeno que vai se repetir de modo cada vez mais frequente e, com grande probabilidade, cada vez mais intensamente, porque os processos que engendraram essa catástrofe estão se intensificando e se tornando mais frequentes.”
Em entrevista ao Brasil de Fato, Marques destaca a importância de compreender as cheias do Rio Grande do Sul como parte de um processo maior.
“Estamos num processo de colapso socioambiental, que deve ser caracterizado exatamente por aquilo que é, ou seja, um processo e não um evento. O processo de colapso é exatamente o processo de repetição, de amplificação e de maior frequência desses eventos.”
O principal problema, diante desse diagnóstico, segundo o pesquisador, é a capacidade da sociedade aceitar o nível de extrema gravidade em que nos encontramos, o que demandaria “uma capacidade de reação social, política e econômica muito maior do que aquela que está sendo disponibilizada hoje, digamos assim, pelos partidos políticos, pelo sistema político de forma geral e pelos movimentos sociais”.
Nesse contexto, a “pior ilusão” que poderia haver na sociedade é de que os governos vão tomar medidas necessárias para combater as mudanças climáticas sem um processo de mobilização popular em relação a esse tema.
“Quem tem que efetivamente pilotar esse processo são os movimentos sociais. É a sociedade civil organizada, os sindicatos, os segmentos mais mobilizados e mais conscientes da sociedade, mas também outros setores. Os movimentos indígenas por exemplo são muito mais conscientes, organizados e mobilizados do que as organizações tradicionais da sociedade, digamos assim.”
Edição: Rodrigo Durão Coelho