Novo governo quer Petrobras refinando mais petróleo e distribuindo menos dividendos a acionistas
A Petrobras reduziu sua participação na economia nacional enquanto esteve sob gestão indicada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e também pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). Os números sobre a perda de relevância da maior estatal brasileira para o cenário econômico foram revelados no último dia 8 pelo grupo técnico (GT) de Minas e Energia nomeado pelo presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com o GT, em 2014, durante o governo de Dilma Rousseff (PT), a Petrobras gerava 13% de toda riqueza brasileira medida para cálculo do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2022, após dois anos e meio de governo Temer e outros quatro de gestão Bolsonaro, esse percentual caiu para menos de 4% –perda de 70% na participação.
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Já a parcela da Petrobras em investimentos caiu de 7,6% do total economia em 2014 para 3% em 2022 –queda de 60%.
Segundo dados do GT, cada R$ 1 investido pela Petrobras gera R$ 3 em riquezas para o país, criando emprego e renda.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN), membro do GT de Minas e Energia, afirmou em entrevista coletiva que a perda de relevância da Petrobras para a economia tem a ver com o foco da empresa na distribuição de dividendos a seus acionistas, a maior parte deles estrangeiros.
Os dividendos são parcelas de lucros que a companhia distribui. Essa parcela cresceu no governo Bolsonaro. A Petrobras chegou a repassar a investidores 125% do seu lucro –ou seja, mais do que a empresa ganhou.
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Esse percentual é possível porque a Petrobras passou a distribuir parte do seu caixa e reduziu seus investimentos em novos projetos.
O novo governo quer mudar isso, segundo Prates. Isso tende a recuperar o papel da Petrobras na economia e ainda preparar a empresa para um cenário mundial de transição energética. “Uma empresa que só distribui dividendos projeta um futuro um pouco nebuloso”, disse Prates. “Toda empresa de petróleo está se transformando em uma empresa de energia, integrada. A Petrobras, não.”
Mudanças climáticas
Maurício Tolmasquim, coordenador executivo do GT de Minas e Energia, afirmou que a Petrobras é hoje uma empresa do século 20 enquanto já vivemos no século 21. Ela explora petróleo, que é o que lhe garante a maior lucratividade e retorno a acionistas, mas não prepara-se para o momento em que o consumo de combustíveis fósseis será cada vez mais restrito por conta do aquecimento global.
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Magda Chambriard, ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e que também integra o GT, disse que a Petrobras já foi exemplo de empresa de energia integrada nos anos 90. Deu passos para trás nos últimos anos. Precisa recuperar-se.
“Quando se olha para 2050, num cenário de emissão zero, temos muitas petroleiras preparadas e a Petrobras na estaca zero de novo. O mundo discute combustíveis renováveis, biocombustíveis, e a Petrobras abriu mão desse movimento”, disse.
Mais refino
Coordenador dos grupos técnicos da transição de governo, o ex-ministro Aloizio Mercadante criticou ainda o fato de a Petrobras ter reduzido sua atividade de refino de petróleo para a produção de combustíveis. Durante os governos Temer e Bolsonaro, a empresa inclusive vendeu refinarias a empresas privadas.
Isso, segundo Mercadante, aumentou a dependência do Brasil da importação de combustíveis. Com a guerra da Ucrânia e a alta do dólar, o preço da gasolina e diesel subiram.
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O ex-ministro disse que isso precisa mudar. Para ele, a Petrobras não pode ser uma simples exploradora de petróleo. Precisa também refiná-lo para que o preço da gasolina e do diesel consumidos aqui sejam independentes dos preços externos. É isso que vai “abrasileirar o preço da gasolina”, disse Mercadante, lembrando da promessa de campanha de Lula.
“Temos que maximizar a capacidade de refino instalada para não ter que importar derivados de petróleo. É isso que força a dolarização de preços”, explicou Mercadante. “Quem descobriu as reservas que descobriu não pode importar o combustível que importa.”
Privatizações
Tolmasquim afirmou que o GT solicitou à Petrobras a paralisação dos processos de venda de bens da empresa até a posse de Lula, incluindo a venda de refinarias. A estatal ignorou o pedido tanto é que no final do mês vendeu a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus (AM).
Prates foi questionado sobre essas vendas. Afirmou que algumas delas realmente fazem sentido. São de ativos que a Petrobras mantém no exterior, por exemplo, e “que não param de pé sozinhos”. Afirmou, contudo, que a nova gestão da empresa pretende reavaliar todos os processos de venda em abertos. Parte disso pode ser reconsiderada.
“Há muitos ativos que são importantes que podem ser objeto de reconsideração para que a empresa possa aproveitar ou integrá-los numa nova formatação”, afirmou.
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Nenhum membro do GT falou na entrevista sobre a reestatização de ativos.
O coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, que integra o GT, gravou um vídeo assim que foi nomeado para o grupo aventando essa possibilidade. No vídeo, Bacelar diz que o governo Lula teria como desafio “trazer de volta ativos estratégicos [da Petrobras] privatizados” durante a gestão Bolsonaro.