Por Patrizia Antonini – O acerto das contas sobre a controvérsia gestão da pandemia de Covid-19 do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro chegou à mesa da justiça.
A operação policial autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que surpreendentemente permitiu nesta manhã que os agentes realizassem buscas na casa do ex-chefe de Estado, no bairro do Jardim Botânico, em Brasília, e apreendessem seu celular, na verdade, gira em torno da hipótese de que os certificados de vacinação anti-Covid do ex-capitão e de sua filha adolescente Laura foram falsificados para permitir que voassem para a Flórida, pouco antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva no comando do Brasil.
Uma operação que, com o cumprimento de seis mandados de prisão preventiva e 16 mandados de busca e apreensão, envolve personagens da comitiva do líder, como Max Guilherme e Sérgio Cordeiro, seus assessores no Palácio do Planalto, mas sobretudo o ex-assessor de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, conhecido por todos como o mais fiel ‘coronel Cid’, considerado o depósito de muitos segredos do ex-presidente, com livre acesso ao gabinete presidencial e à residência do palácio da Alvorada.
Segundo as reconstituições, as falsas carteiras de vacinação de Covid foram inseridas no “cérebro” eletrônico do Sistema Único de Saúde em 21 de dezembro de 2022, cerca de dez dias antes do fim do mandato de Bolsonaro.
E as medidas fazem parte de uma investigação sobre uma suposta “associação criminosa constituída para cometer os crimes de inserção de dados falsos de vacinação em aparelhos do Ministério da Saúde”.
O inquérito fecha o círculo em torno de Bolsonaro, levantando a hipótese de que o objetivo do grupo era “manter coeso o elemento identitário, em apoio aos ataques” contra a campanha de imunização, da qual Bolsonaro era o líder.
O ex-presidente se defendeu afirmando que não havia “manipulado o documento” e lembrou que “nunca negou não ter sido vacinado”. “Li a bula e decidi não tomar”, disse ele ao final da busca, informando que não se apresentaria à Polícia Federal apesar da intimação.
“Soubemos pela imprensa que o motivo da operação seria a falsificação das carteiras de vacinação do meu marido e da nossa filha Laura”, explicou a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, a única a ter tomado a injeção, nos Estados Unidos.
A pandemia, que custou a vida de quase 700 mil pessoas no Brasil, é um tema venenoso para a imagem de Bolsonaro, que desde o início assumiu uma atitude de desprezo pela ciência, falando em “gripezinha”, mesmo quando o vírus já começava a dizimar o planeta.
O argumento o enfraqueceu politicamente e agora o torna vulnerável à justiça.
A impressão dos especialistas é de fato que o terreno está sendo preparado aos poucos para um confronto final do ex-presidente, já no centro de dezenas de investigações (como instigador dos atentados aos prédios da democracia em Brasília em 8 de janeiro, além do caso de joias da Arábia Saudita). Uma ofensiva pesada em várias frentes, que muito provavelmente custará a inelegibilidade de Bolsonaro, mas que agora não exclui o cenário de prisão.