A tensão entre o povo Guarani Kaiowá, a polícia e o agronegócio está acirrada no município de Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul. Em um intervalo de cinco dias, indígenas retomaram parte do território de Laranjeira Nhanderu, sobreposto à Fazenda Inho, foram reprimidos pela Polícia Militar, tiveram três lideranças detidas e, em seguida, uma vitória judicial pelo avanço do processo demarcatório. Nesta quarta-feira (8), ocuparam a sede da fazenda.
A área, reivindicada como de ocupação tradicional dos Guarani e Kaiowá, integra a Terra Indígena (TI) Brilhantepagua, cuja demarcação não foi finalizada. Dentro da TI está a fazenda de soja de propriedade de José Raul das Neves e seu filho.
Desde 2007 os indígenas esperam que a demarcação seja concluída. Naquele ano, o estudo demarcatório foi incluído em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Funai. Com o processo estagnado ao longo desses 18 anos, os indígenas retomaram o território por conta própria algumas vezes e foram despejados. Agora, afirmam que não vão sair.
“Aqui é território indígena. Hoje estamos na sede [da fazenda]. A comunidade decidiu ocupar o seu território definitivamente. Não vamos abrir mão daquilo que já retomamos”, afirma Simão Kumuni, integrante da Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani e Kaiowá). Nesta quinta-feira (9), estavam trabalhando na construção da casa de reza no local.
A reza e a flecha contra a bomba da PM
Esta última retomada, batizada de Yvyrapygue (raiz de árvore), aconteceu na sexta-feira (3). Poucas horas depois e sem mandado judicial, a Polícia Militar reprimiu os indígenas com bomba de gás, bala de borracha e prendeu três lideranças.
Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra o avanço da tropa de choque e seu Olímpio, um rezador de 83 anos, empunhando um arco e uma flecha para tentar resistir à repressão. Mbo’y Jeguá, sua filha, professora e integrante da Kuñangue Aty Guasu (Grande Assembleia de Mulheres Guarani e Kaiowá), foi detida ao se colocar na frente do pai.